Voluntariado pelo mundo

É através de pequenas acções que se consegue fazer a diferença e existem cada vez mais jovens que se voluntariam para ajudar os outros “lá fora”. E, hoje em dia, é possível fazê-lo em quase todo o mundo. Os programas de voluntariado internacionais incidem em diferentes áreas, como a educação, o ambiente, o desporto, a juventude, a cultura e o serviço social. Este é um trabalho que, com pequenos gestos, pode de facto mudar o mundo.

Mathilde Neto, de 22 anos, é uma desses jovens. Apesar de estar inserida em vários projectos nacionais foi através da GASTagus (Grupo de Acção Social do Tagus), que se arriscou a ajudar pelo mundo fora.

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CC by Mathilde Neto

Madalena Pinto: Qual foi a razão pela qual decidiste fazer voluntariado?

Mathilde Neto: Há muito tempo que queria fazer voluntariado. Desde pequena que fui habituada a pensar não só em mim própria, mas também nos que têm menos. Na altura do Natal era quase hábito dar brinquedos e roupas que já não usávamos, e talvez essas iniciativas proporcionadas pelos meus pais me tenham suscitado interesse no voluntariado. Estudei num colégio católico onde também nos alertavam sempre para olharmos à nossa volta e não nos preocupamos com o nosso “umbigo”. Os escuteiros também me proporcionaram esta preocupação, no qual estive durante 8 anos. Acho que a vontade de ter começado a fazer voluntariado partiu muito dos ensinamentos que me foram dados desde criança.

M.P.: Qual foi a organização que escolheste e porquê?

M.N.: De entre algumas organizações que já fiz voluntariado, uma das que estive durante um período maior foi o GASTagus (Grupo de Acção Social do Taguspark). Escolhi esta organização porque, como muitos de nós hoje em dia, descobri no Facebook de uma amiga de longa data que tinha publicado uma palestra de apresentação do projecto e decidi ir por curiosidade.

M.P.: Que tipo de actividades de voluntariado é que a GASTagus tem?

M.N.: O GASTagus é um grupo de acção social que existe há 9 anos. Está distribuído por 5 pólos (IST – Taguspark, FCT, ISEG, ISPA, Faculdade de Psicologia) no qual qualquer pessoa entre os 18-30 anos se pode inscrever. Chamamos Caminhada ao percurso feito no GASTagus, sendo composto por formações e reuniões uma vez por semana durante 9 meses, no qual no último os voluntários vão em missão para fora, nomeadamente para Cabo Verde, São Tomé, Brasil, Angola e Moçambique. Este processo de ir em missão envolve dinheiro, o qual os voluntários angariam deliberadamente. A caminhada envolve também fins de semana de “retiro” uma vez por mês. O principal objectivo do GASTagus é formar jovens activos e conscientes, tendo por base 4 pilares fundamentais: Equipa e Amizade, Renúncia e Simplicidade, Entrega e Serviço e, por fim, Continuidade e Sustentabilidade.

M.P.: O que é que fizeste enquanto estiveste a fazer voluntariado?

M.N.: No GASTagus somos também incentivados a fazer voluntariado local, isto é, no nosso próprio país. Em Portugal estive numa organização chamada Amigos Improváveis em que uma vez por semana ia a casa de um velhote, o Senhor Magno, fazer-lhe companhia. Em Cabo Verde, na ilha de Santiago onde estive 1 mês, na primeira semana dei formações de suporte básico de vida, da importância de trabalhar em grupo e certas regras de civismo e educação na sequência da realização dos campos de férias que viriam nas 3 semanas seguintes. Falando de campos de férias pode recorrer à memória os das Juntas de Freguesias, muito organizados. Em Cabo Verde é tudo diferente, a pontualidade e a organização essencialmente. Há uma grande falta de noção do que é viver em comunidade, tendo em conta a nossa ótica, porque a chave para o voluntariado internacional é pensar que não vais mudar o mundo, e que a tua realidade não é a certa, porque não há realidades e formas de viver certas, apenas diferentes e oportunidades distintas. E por isso nos campos de férias tentamos fazer um plano de actividades inter-culturais, actividades de inter-ajuda, com o objectivo de os estimular. Estávamos o dia todo na escola, cada voluntário (cada equipa tem 6 voluntários) ficava responsável por uma sala e realizava actividades com eles, nomeadamente construir instrumentos com materiais recicláveis. Tivemos também o dia internacional, onde aprenderam o hino português, a gastronomia e algumas musicas típicas. Todo o processo dos campos de férias era muito complicado pois também tínhamos voluntários cabo verdianos que nos ajudavam. Chegavam sempre atrasados, não traziam o material e foi muito difícil no início esta gestão para 300 crianças numa escola que inicialmente não percebem o nosso idioma.

M.P.: O que é que mais valorizas dessa tua experiência?

M.N.: O que mais valorizo nesta experiencia foi sem dúvida o facto de ver outras realidades com os meus olhos, e quando falo de outras realidades não falo de passar férias para fora do país. Falo de ver crianças sem sapatos, com a mesma roupa durante um mês, de crianças que não aparecem nos campos de férias porque no dia anterior choveu e como as suas casas não têm tecto tiveram de ajudar os pais a “reconstruir” a casa, de uma população que come a mesma comida todos os dias. Foi uma experiencia que me enriqueceu muito. Sem dúvida que olho muito mais à minha volta e que dou mais valor ao que tenho, à minha família e às oportunidades que tenho, como estudar numa boa faculdade e viver numa boa casa.

M.P.: Esta tua experiência mudou a tua opinião relativamente a determinados assuntos?

M.N.: Esta experiencia não mudou a minha opinião, veio apenas reforçar a ideia da desigualdade que existe no mundo, na ganância que o move e na ansiedade pelo poder que causa estas disparidades entre “ricos/pobres”.

M.P.: Recomendarias a alguém passar por esta experiência?

M.N.: Recomendaria a qualquer pessoa a fazer voluntariado. A verdade é que o voluntariado muda uma pessoa, muda a mentalidade, muda a forma como vemos o mundo, muda também as atitudes que temos por vezes. Faz-nos aproveitar mais o tempo que temos, com coisas que realmente interessam. Faz nos ver o panorama geral do mundo e perceber que há sempre alguém pior que nós e que devemos dar valor à vida.

Após termos falado com a Mathilde, percebemos que a tendência para fazer voluntariado é cada vez maior. É também mais fácil hoje em dia aceder a estes programas e fazer a diferença, tanto a nível nacional como a nível internacional.


Conteúdo produzido por Madalena Pinto, Madalena Tomás, Renata Almeida e Rita Martins, na unidade curricular de Comunicação Digital.