Os empregadores atuais procuram jovens adultos que estejam preparados para enfrentarem os crescentes desafios da globalização. A experiência Erasmus pode ser a solução para esse desafio.
Não é novidade que a experiência Erasmus nos prepara para o mundo do trabalho. Quem vive meses fora do conforto de casa, saberá que desafios não faltarão pelo caminho. E, ao longo desse caminho, haverá com certeza muito crescimento por realizar. Desde aprender a viver sozinho e a contactar com novas culturas, como adquirir a capacidade de adaptação rápida e de solucionar de problemas, duas soft skills muito apreciadas no mundo empresarial.
Contudo, a grande mudança é a nível interior. Que a experiência Erasmus muda as nossas vidas, ninguém tem dúvida. Muda-nos a nível pessoal, porque somos expostos a novos desafios que nos fazem crescer diariamente. Muda a nossa forma de pensar e de sentir. Dá-nos as ferramentas necessárias para uma maior abertura cultural e abre portas a uma constante renovação interior.
Perante tudo isto, segue-se a grande questão: de que modo é que toda esta transformação pessoal pode impactuar positivamente a taxa de empregabilidade?
Vários são os especialistas que se debatem sobre esta temática. Neste artigo, trazemo-vos três testemunhos. A primeira entrevistada é a Drª. Clementina Santos, que está diretamente inserida no meio e trabalha no departamento de relações internacionais da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa. A segunda entrevistada, Liza Penelope, é uma ex-estudante universitária que, em 2018, optou por estudar na Universidade Católica Portuguesa durante um ano. Por fim, mas não menos importante, a própria Presidente da ESN Lisboa, Rita Soares Dias.
Entrevista à Drª. Clementina Santos
Na sua opinião, de que modo é que a experiência Erasmus pode ser uma mais valia para os alunos?
C.S. – Pela experiência em si: pessoal e académica. Pessoal, pois permite ao aluno um amadurecimento, viver num ambiente internacional, conviver com outras culturas, falar outra língua, desenvolver competências pessoais como as soft skills, fazer novas amizades, viajar. Académico, pois pode tirar partido de outras metodologias de ensino, outros professores, disciplinas diferentes que possam de alguma forma enriquecer as temáticas de interesse, e ser aluno numa prestigiada universidade ainda que por um semestre ou dois.
Outra coisa que ganham: amigos para toda a vida, amigos internacionais, de todo o lado do planeta.
Não é à toa que uma vez uma aluna me respondeu quando lhe perguntei o que foi pior do Erasmus: “Voltar”. Este é o valor que aqueles que não vão, não chegam a sentir: o que significa voltar.
Consegue ver algum tipo de relação positiva entre a experiência Erasmus e a taxa de empregabilidade? Porquê?
C.S. – Sim. Alunos que fazem o Programa Erasmus desenvolvem competências apreciadas pelo empregador como por exemplo, as soft skills. Vivemos numa era global e com a emergente internacionalização das empresas, as experiências internacionais são cada vez mais valorizadas pela capacidade de trabalhar em ambientes multiculturais, falar outras línguas, etc…
Entrevista a Liza Penelope
Na sua opinião, acha que existe alguma relação positiva entre a experiência Erasmus e a taxa de emprego? Se sim, porque é que acha que tal acontece?
L.P. – Pela minha experiência posso dizer que existe uma forte correlação entre fazer Erasmus e ser empregado por uma empresa. Graças à minha estadia consegui um bom trabalho numa start-up internacional e agora tenho a oportunidade de fazer um estágio em Portugal – graças às minhas habilidades em português, as quais eu não teria conseguido adquirir sem ter estudado numa universidade portuguesa. É importante referir também que muitas empresas querem colaboradores com uma mentalidade aberta, de preferência com experiências em países estrangeiros, porque isso significa que estão abertos a desafios, e que são capazes de se adaptar a novas situações rapidamente. Além disso, o conhecimento de Inglês melhora bastante (caso não seja a sua linguagem nativa) pelo facto de estarmos em constante contacto com estrangeiros. No meu caso, tornei-me fluente em duas línguas e tive a oportunidade de aprender outra língua do zero, algo que foi muito útil para conseguir ser empregue por duas organizações.
Quais são as competências mais importantes que os estudantes adquirem durante o Erasmus?
L.P. – Para além de aprender uma nova língua ou praticar outras que já conhecemos, temos que lidar com tantos outros desafios como mudarmo-nos para um novo país, habituarmo-nos a um novo estilo de vida e, às vezes, a ser confrontados com choques culturais. As pessoas que passam pela experiência Erasmus também aprendem a lidar com situações desconhecidas.
Sente que cresceu como pessoa com a experiência Erasmus?
L.P. – Sinto que sim. Bem, eu cresci muito ao sair de casa dos meus pais para ir viver para uma cidade a mais de 600 km para estudar. Vir para Lisboa e estudar aqui durante um ano inteiro permitiu que eu crescesse muito mais. Sou muito mais confiante agora. Aprendi a tornar-me confortável a viajar sozinha. Sem o Erasmus, eu provavelmente nunca consideraria mudar de país outra vez, porque teria medo. Aprendi a ajustar-me a diferentes situações e a conseguir manter contacto com pessoas que estão a milhares de quilómetros de mim. Esta foi uma aptidão essencial que consegui adquirir e que toda a gente devia conseguir ter a determinado pontos das suas vidas.
Entrevista a Rita Soares Dias
Poderá a experiências Erasmus ser um ponto diferenciador para um estudante universitário, a nível profissional? Em que medida?
R.S.D. – Um dos objetivos do Programa Erasmus + é o desenvolvimento de skills profissionais. Ao participarem no programa os estudantes ganham competências que não eram possíveis obter no país de origem, principalmente a nível de aprendizagem de línguas e de compreensão cultural, isto é, ao estarem envolvidos com outras culturas, os estudantes encontram pontos de contacto entre a sua cultura e a dos outros e ficam mais compreensivos para com as diferenças. Como consequência da globalização do mercado de trabalho, hoje em dia os empregadores procuram cada vez mais trabalhadores que detenham um background multicultural e que saibam lidar com esta diferença.
A nível pessoal, qual diria ser a maior vantagem de estudar no estrangeiro? Porquê?
R.S.D. – Para além das skills profissionais referidas em cima, existem outras vantagens de participar em programas de mobilidade nomeadamente a nível do crescimento pessoal e da aprendizagem sobre outro sistema educacional. Por sua vez, o Programa Erasmus + é extremamente enriquecedor a nível pessoal, isto é, é uma oportunidade para os estudantes conhecerem novas realidades, novas culturas e de crescerem enquanto pessoas. Relativamente a este último ponto, é a primeira vez que muitos dos estudantes vivem longe do país, e por isso, têm de aprender a viver sozinhos, assumir responsabilidade a aprenderem a ultrapassar dificuldades. Por fim, ficam igualmente a conhecer um novo sistema educacional, que agora detém capacidade de comparar com o do seu país de origem.
Ambos as entrevistadas nos elucidam para as grandes vantagens da experiência de intercâmbio e partilham connosco aquelas que são as principais razões para o Erasmus ser quase um requisito nos dias de hoje. Enumeram-se, de seguida, algumas dessas razões:
Por um lado, a capacidade de adaptação e de crescimento. Para os alunos que vão e que agarram de braços abertos esta oportunidade, aprendem a adaptar-se a novos ambientes, a lidar com novas realidades, e a crescer com elas. Estes alunos acabam por contactar com culturas completamente novas, com idiomas diferentes do seu, com pessoas oriundas dos 4 cantos do mundo, pelo que têm que se ajustar a tudo isto.
Esta capacidade de adaptação que ambas as entrevistadas referem, é o segredo para lidar com os crescentes desafios da globalização, atualmente.
Por outro lado, a experiência Erasmus abre novos horizontes. Expande a noção de multiculturalidade do aluno, pois este é forçado a viver num outro meio fora da sua zona de conforto. O aluno acaba por criar ferramentas dentro de si que o ajudam a lidar com a mudança, com a imprevisibilidade e com os desafios do quotidiano. E, na visão das empresas, todas estas soft skills são fundamentais para os recém licenciados, que acabam de sair da universidade e pretendem agora ingressar no mercado de trabalho.
A experiência Erasmus é, e continuará a ser, um marco na vida pessoal dos estudantes e um traço diferenciador para as empresas.
Principais benefícios da experiência Erasmus:
- Capacidade de adaptação a novos ambientes
- Capacidade de solucionar problemas
- Abertura cultural
- Crescimento interior e descoberta do eu
Foto de capa. Foto fauxels, Pexels. Foto Andrea Piacquadio, Pexels.
Conteúdo produzido por Ana Sofia Santos, Diogo Correia, Isabel Gonçalves Lopes, Margarida Calheiros, no âmbito da disciplina de Comunicação Digital da licenciatura em Comunicação Social e Cultural.