Informar nas redes sociais: Portugal tem pioneira

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Diana Duarte tem 28 anos e é jornalista. Os que a conhecem, conhecem-na pelas barreiras que quebrou.  Demoliu “o muro da casmurrice” que separava o jornalismo das redes sociais. O seu trabalho colocou a informação e o quotidiano de uma das maiores redações do país aos olhos do público jovem. Através de stories no Instagram, descomplicou temas, humanizou políticos e criou uma ponte entre a informação e as audiências do futuro. Durante o seu legado no Instagram da SIC Notícias, a página passou da inexistência para os 160 mil seguidores.


Fotografia do feed de instagram de Diana Duarte com uma fotografia em que a própria aparece.
O instagram é uma das redes sociais privilegiadas por Diana Duarte. Na sua conta pessoal aproveita para promover o seu trabalho| © Beatriz Carvalho.

Mudança, flexibilidade, rapidez e criatividade. São estas algumas das palavras que têm vindo a moer o juízo aos produtores de informação. Mudam os meios, os públicos e os formatos. A escrita vai dando lugar à imagem. A rádio vira-se para o podcast. Em todos os meios os consumidores querem conteúdo on demand e toda a gente tem acesso a toda a informação a toda a hora. Na era do digital, em que cada dia parece, em si, uma nova era, ganha quem sabe criar e cativar. Diana Duarte criou e cativou.

A Diana nasceu em Coimbra mas logo se mudou para Leiria, onde cresceu. Já crescida desceu a Lisboa e fê-lo para a prosaica tarefa de estudar Direito. Dois anos “jurídicos” foram suficientes para perceber que o futuro não passava pelo magistério. Seguiu-se o curso de Jornalismo, onde confirmou uma velha suspeita – nas palavras da própria – descobriu ter “genuíno interesse no que as pessoas têm para contar”.

PÔr as mãos na massa

Depois da epifania as mãos fizeram-se à massa. Começou por apresentar um espaço de entrevistas no programa E2 – que emite na RTP 2 e é exclusivamente produzido por alunos da Escola Superior de Comunicação Social – chamado Intra Vista. Daqui partiu para um estágio na CMTV, onde, passados dois dias, se fez repórter no terreno do programa Flash!Vidas. No final do mestrado, também em Jornalismo, restaram dois caminhos: sentar-se a uma secretária para escrever uma tese ou fazer um estágio curricular. Veio mais um estágio e desta feita no “teatro dos sonhos” , uma das maiores redações do país , a redação da SIC Notícias.

Para Diana Duarte, chegar a uma redação como a da SIC Notícias foi o realizar de um sonho “depois de dois a anos a tentar entrar lá dentro sem cunhas”. Sem nunca ter fixado isso como objetivo Diana foi criando um espaço próprio dentro da redação. A vontade passava por, através do estágio, abrir a porta para o primeiro contrato de trabalho. O sonho era a televisão, mas ao terceiro mês o diretor de informação dirigiu-a para o digital. O desafio era grande mas escusado será dizer que foi superado. O que nos importa é perceber como.

Sem que disso tenha grandes certezas, Diana terá sido um dos elementos mais novos da redação. Fez da juventude, muitas vezes associada à inexperiência, uma vantagem. “Crescer a par com o advento das redes sociais talvez tenha sido uma benefício”– diz Diana Duarte.

O caminho nas redes sociais – notícias para todos

Apaixonada pelo vídeo, com vontade de falar à sua geração, crente na importância da informação e com desenvoltura suficiente para estar à frente de uma câmara, estavam reunidas as condições para explorar as possibilidades oferecidas pelas redes sociais.

Diana Duarte começou por ser pivô nos noticiários que eram publicados no Facebook da SIC Notícias – o SIC Notícias Prime. A iniciativa não fracassou, mas desde logo a jornalista percebeu que o público que lhe interessava cativar estava a migrar para outra rede social. “Para o público da minha geração, o Facebook caiu em desuso”. Assim, tacitamente, estava lançado o grande desafio. Depois de muito insistir com o diretor de informação da estação as notícias chegaram ao Instagram.

Em três ecrãs, três utilizadores vêm stories produzidos por Diana Duarte.
Em cada um dos três telemóveis um conteúdo produzido por Diana Duarte para o Instagram. Cada um revela um tipo diferente de story |© Beatriz Carvalho.

A jornalista, na altura com 25 anos, arranjou-se com um tripé, desbloqueou a verba para comprar um microfone compatível com o Iphone, criou uma página de Instagram para a SIC Notícias – que ainda não a tinha – e começou a fazer noticiários com a “câmara das selfies”. O produto final chegou-nos através de stories – formato de partilha de fotografias e vídeos que apenas ficam disponíveis por 24 horas. Os resultados deviam ser um caso de estudo. Em apenas um ano, a página passou de 0 seguidores para os 100.000, uma média de 8.300 novos seguidores por mês.

Como em tudo na vida ninguém parte do nada. Diana admite que já tinha visto algumas “coisas interessantes que se faziam lá fora”. A jornalista aponta como principais referências  o trabalho desenvolvido pelo jornal brasileiro Estadão, que costuma ter uns destaques em vídeo no Instagram , e o The Guardian, que usa a mesma rede social para algumas coberturas.

Dois ícones que representam dois símbolos presentes na rede social instagram.
O Instagram e as suas stories são um dos meios de publicação de conteúdos mais utilizados pelos novos públicos. O formato é maioritariamente usado por jovens | Créditos: rapahelsilva, Pixabay, License

Foram as stories de instagram de meios de comunicação estrangeiros  que criaram os alicerces sobre os quais Diana foi capaz de inovar. Tornou-se numa espécie de pivô noticiosa que marcou presença quase diária em stories vistas por milhares de pessoas. O trabalho da jornalista tornou-se popular, sobretudo entre jovens que estudam ou estudaram comunicação.

“A Diana, através da sua presença e dos conteúdos que produziu, acessíveis às camadas mais jovens da sociedade, criou um vínculo com o público. Fidelizou-o” – declara José Simões de Almeida, estudante de Comunicação na Universidade Católica Portuguesa, que afirma seguir com interesse o trabalho de Diana Duarte.

Quem também seguiu de perto os noticiários de Instagram da SIC Notícias foi André Maia. O jornalista da Rádio Observador confessa que olha para o trabalho de Diana Duarte como uma “lufada de ar fresco” e considera que principal inovação destes noticiários foi “não se terem limitado a passar imagens e a descrever acontecimentos”. Para este jovem, a dar os primeiros passos no jornalismo, Diana “deu um pontapé no estaminé ao tornar acessível aos mais novos, a vida nos bastidores e corredores de uma redação”.

Políticos na “câmara de selfie

Foi por passar os dias nos corredores da SIC que a jornalista conseguiu “caçar” e trazer ao instagram – e ao escrutínio dos mais novos – as figuras que, por norma, apenas se movimentam nos meios tradicionais. Diana Duarte foi capaz de aproveitar o peso televisivo da SIC, que recebe com regularidade figuras públicas com grande peso mediático, para aceder a muitos dos principais atores políticos – muitas vezes apanhados desprevenidos no meio dos corredores.

Através de mini-entrevistas foi dada a oportunidade, aos políticos, de aproveitar o tempo de antena para cativar uma audiência da qual se encontram cada vez mais distantes. Diana Duarte diz que “o objetivo era o de que os políticos deixassem cair a máscara e mostrassem uma parte de si mais bem humorada e descontraída”. Para a jornalista o balanço é positivo. Confessa, no entanto, que “houve um pouco de tudo”.

O atual primeiro-ministro António Costa, por exemplo, “demostrou ter sentido de humor e interesse em humanizar-se”. Já Luís Montenegro – ex-líder da bancada parlamentar do PSD – “não foi capaz de largar o tom propagandístico por um segundo que fosse”. Diana Duarte deixa também uma nota positiva para os dirigentes do Bloco de Esquerda. Depois de cobrir o congresso do partido, única e exclusivamente para o Instagram, a jornalista fala de uma muito boa receptividade por parte do partido a esta nova forma de produzir informação.

Duas pessoas a ver ver stories de Instagram onde Diana Duarte entrevista António Costa.
Um dos muitos noticiários do Instagram da SIC Notícias. Diana Duarte entrevista António Costa | © Beatriz Carvalho.
O processo

A produção de informação é, seja qual for o meio e o formato, um processo com vários estágios. Muitas vezes, a aparente simplicidade do produto final, pode conduzir ao juízo imediato – e errado – de que a produção de alguns conteúdos não é trabalhosa.

Para contrapor esta ideia do senso comum, Diana Duarte faz questão de explicar o processo, quase sempre autodidata, através do qual produzia os noticiários:

“Há que começar pelo guião, fazer as escolhas editoriais, adaptar a escrita ao Instagramalgo que é difícil porque falamos de uma linguagem que pede um enorme poder de síntese.

Depois de tudo isto, há que “memorizar o conteúdo”. Segue-se a logística, “escolher o sítio para montar o tripé e testar o microfone e, quando possível, arranjar entrevistados”. Para terminar – o mais trabalhoso – a edição. “Tudo era gravado em corrido para depois ser editado, no computador, em frames de 15 segundos. A seguir há que exportar os vídeos para os publicar através do telemóvel. Os momentos de edição talvez tenham sido dos mais solitários da minha vida. Como costumo dizer:  “edição é solidão”– conta Diana Duarte, entre risos.

A jornalista conta também que da “trabalheira” da edição e publicação dos conteúdos resulta muito cansaço, mas nem por isso se torna mais fácil dormir. “Depois de passar muito tempo a levar com o brilho do ecrã queres dormir mas não consegues”. Ainda assim, para a jornalista de 28 anos, “há cansaços que vêm por bem”. Até porque foi “muito feliz” enquanto esteve na SIC.

Muita dessa felicidade deve-se à autonomia e liberdade com que a deixaram trabalhar. “Nunca um diretor me disse o que podia ou não podia dizer”. Diana conta também que só no momento da despedida, e depois de uma pergunta da própria, é que o diretor de informação da SIC – Ricardo Costa – lhe falou das vezes em que considerou que a jornalista “pisou o risco”. Para além de admirar as chefias, Diana Duarte elogia também as grandes figuras “de campo”. Na redação, depois da desconfiança inicial – que a jornalista considera “natural” – o seu trabalho foi recebido de braços abertos.

O objetivo de todo este projeto foi o de chegar ao maior número de pessoas possível. Existia a consciência de que no Instagram havia muito público para conquistar mas se perguntarmos a Diana Duarte se tinha noção da quantidade de público que iria alcançar a resposta é contundente:

“Sabia que ia resultar, mas não sabia que ia resultar tão bem. O objetivo era ganhar 100 seguidores por dia, a média acabou por ser de 273.”

O verdadeiro segredo para conquistar o público, se  lhe pudermos chamar segredo, é “ter entusiasmo pelos temas e vontade de os fazer chegar a quem habitualmente está fora do alcance dos media tradicionais”. Para além do número de seguidores alcançado, as muitas mensagens que foram chegando ao Instagram da SIC Notícias deram aval positivo ao trabalho desenvolvido pela Diana, algo que a jornalista encara como “o reconhecimento que todos os jornalistas desejam, independentemente do meio.”

Duas mãos seguram dois telemóveis. Em cada um estão conteúdos produzidos por Diana Duarte.
A solo ou em entrevista, Diana Duarte tem sempre algo para nos dizer no Instagram | © Érica Monteiro.
Presente e Futuro

No passado mês de junho a Diana abandonou a SIC para abraçar um novo projeto. Para trás deixou construída a página de Instagram de um orgão de  comunicação social com mais seguidores em Portugal. Trabalha neste momento como animadora na Rádio Observador. Mesmo não estando presente no Instagram com a mesma regularidade, produziu, no passado mês de Outubro, uma rubrica diária de acompanhamento da campanha eleitoral – chamada “Na Rota do Palanque” – para o Instagram do Observador.

Na rádio, para além das emissões regulares, é responsável pelo programa de entrevistasA Minha Geração, em que nos dá a conhecer “os mais ilustres representantes da geração nascida depois da queda do muro de Berlim”. O programa está nomeado para os prémios Podes – 2019, na categoria de melhor programa de rádio.

No futuro Diana Duarte pensa voltar ao vídeo. Para quem procura novas formas originais e criativas de informar, esta nova informadora tem um conselho simples: “vejam o que se está a fazer lá fora, sejam curiosos e interessados.”

 

Foto de capa: © Pixabay License


Conteúdo produzido por Ana Margarida Andrade, Beatriz Carvalho, Érica Monteiro, Filipa Neto, Sofia Oliveira e Vicente Figueira no âmbito da disciplina de Comunicação Digital da licenciatura em Comunicação Social e Cultural.