Touradas em tempo de pandemia

Em tempos de pandemia a realização de touradas tem sido alvo de grandes críticas. Entrevistámos o cavaleiro Rui Fernandes para ter um visão dos efeitos que a pandemia tem causado nesta modalidade.

Em poucos meses a pandemia do novo coronavírus veio transtornar todo o mundo, mas em especial o mundo da tauromaquia. Durante o Estado de Emergência e mesmo alguns meses após, todas as touradas no país chegaram mesmo a ser canceladas. O retomar das touradas foi lento, no entanto foram dos primeiros eventos nacionais a serem realizados com algum público, sempre com as medidas de segurança necessárias. Para podermos compreender melhor este tema, entrevistámos o cavaleiro Rui Fernandes.

Conseguimos ouvir o barulho das turbinas de um avião, porque foi a caminho de uma corrida de treino no México que o cavaleiro Rui Fernandes, de 42 anos, nos deu a entrevista, por telefone.

Foto do cavaleiro Rui Fernandes numa corrida no Campo Pequeno em 2016.
Rui Fernandes numa tourada no Campo Pequeno em 2016.
Foto © Rui Fernandes

Face à situação atual quais são os aspetos que destacaria que mudaram as touradas como as conhecíamos?

Rui Fernandes-  Na fase em que vivemos, o que eu destacaria que mudou foram as cortesias. As voltas à arena é uma coisa que vi com muitos bons olhos que se calhar no futuro se pode continuar a fazer. O menor número de pessoas dentro da trincheira – no qual nós cavaleiros, quando estamos em arena beneficiamos bastante desse aspeto, o de haver menor número de pessoas na trincheira.

Relativamente às medidas de segurança, acha que foram suficientes ou foi algo negligenciado?

RF- Em relação às medidas de segurança, noto que a nível das corridas acho que não poderia ter corrido melhor, nota máxima para esse aspeto nas corridas de touros!

Qual é a sua opinião relativamente à realização de touradas com público e à não realização de outros eventos com público?

RF- Em relação às corridas com público e a outro tipo de espetáculos sem público, se calhar no caso do futebol, eu acho que a forma como festejamos aquilo que estamos a ver numa corrida é muito mais formal do que por exemplo num jogo de futebol. Num jogo de futebol pode haver um abraço ou mais gritos, enquanto numa corrida acho que a postura das pessoas que estão a assistir à corrida é completamente diferente, acho que a maneira de expressarem os seus sentimentos é aplaudindo ou assobiando. Deste modo, acho que as corridas têm todas as condições para terem público. Já no caso do futebol, acho que só funcionaria com o devido distanciamento.

“A forma como festejamos aquilo que estamos a ver numa corrida é muito mais formal do que por exemplo num jogo de futebol.” – Rui Fernandes

E esta nova realidade como é que o afetou a si e aos seus colegas? Perspetivas para o futuro das touradas?

RF- Esta nova realidade afetou-me diretamente porque optei por não tourear qualquer tipo de corrida. Assim, afetou-me bastante porque todos os meus ingressos a nível das corridas de touros não foram concretizados. A nível do futuro, apesar de ser uma pessoa bastante otimista, não acredito que a normalidade seja atingida em 2021. 

Vivemos numa realidade com cada vez mais movimentos anti touradas. Acha que a popularidade das touradas ainda pode vir a crescer?

RF- Não há dúvida de que hoje em dia há muitos movimentos anti touradas, mas penso que dentro de uns anos as touradas podem vir novamaente a ter um grau de popularidade mais elevado do que até à data de hoje.

De facto, com a perspetiva que o cavaleiro Rui Fernandes nos transmitiu nesta entrevista, podemos perceber que as touradas continuam a funcionar, com as devidas medidas de segurança e com menos público. Os nossos votos são de esperança, para que tudo possa voltar à normalidade o mais rapidamente possível.


Conteúdo produzido por Ana Sofia Santos, Diogo Correia, Isabel Gonçalves Lopes, Margarida Calheiros, no âmbito da disciplina de Comunicação Digital da licenciatura em Comunicação Social e Cultural.

Foto de capa:“Spanish bullfighting arena” by samvandermeer is licensed underCC BY-NC 2.0