Trump inquieta América

Contrariando todas as previsões, Trump vence as eleições e torna-se o 45º presidente dos EUA. As reações à sua vitória foram díspares e muitos foram os americanos que pensaram em emigrar para o Canadá. Fomos falar com uma família americana e uma família canadiana para perceber o ambiente que se vive nestes países.


© CC BY-SA 2.0, Wikipedia, Gage Skidmore
© CC BY-SA 2.0, Wikipedia, Gage Skidmore

Na madrugada de dia 9 de Novembro o mundo ficou a conhecer qual seria o próximo presidente dos Estados Unidos da América (EUA). Donald Trump é o 45º presidente dos EUA.

À medida que a vitória do republicano se ia tornando mais evidente, o principal site de imigração canadiano ficou inacessível por várias vezes devido a um aumento do tráfego. O Google Trends também revelou um aumento na pesquisa do termo: “move to canada”. Para além disso, o jornal Business Insider publicou um artigo intitulado de: “Como mudar para o Canadá e tornar-se um cidadão canadiano”.

À conversa com uma família canadiana e uma família americana, tentámos perceber as reações à vitória de Trump e as suas preocupações e perspetivas de futuro.

Relativamente à forma como veem a vitória do republicano, a família americana adverte-nos para o facto de não ter votado em Trump, pelo que as suas opiniões podem ser tendenciosas. “Eu penso que é um resultado muito negativo para a América”, diz a família americana. Preocupam-se com a possibilidade de se desfazerem importantes decisões socias feitas nos últimos anos, como é exemplo do casamento homossexual, aborto ou o Obamacare. Isto, porque Trump poderá escolher entre um a três juízes para o Supreme Court. A família canadiana acrescenta a preocupação de que Trump não tem experiência política e “a sua atitude arrogante, racista e mentalidade machista, a tendência que ele tem para dar respostas sem pensar nem pesquisar e a sua propaganda através do medo são perigosas e podem causar grandes danos aos Estados Unidos da América, ao Canadá e às relações com outros países.”

As reações à vitória têm sido variadas. Na América, principalmente nas áreas democratas, muitos são os que se perguntam “como é que isto aconteceu”. “Os media têm estado a explicar como isto (eleição de Trump) pode ter acontecido” e muita gente consulta sítios na internet que não são media legítimos, o que poderá ter contribuído para o desfecho das eleições. No entanto, existem outras pessoas que vêm a eleição de Trump como um regresso a um tempo que consideram ser melhor. “Há muita emoção, é difícil descrever doutra maneira”. Por sua vez, os canadianos estão pasmados com estes resultados. “Algumas pessoas pensam que os EUA ‘obtiveram o líder que mereciam’. Outras acham que nós devíamos construir um muro entre o Canadá e os EUA. A maioria não quer que mais americanos emigrem para o Canadá.” Salienta ainda que os canadianos têm uma boa cultura geral acerca do que se passa no resto do mundo e que o seu governo é melhor que o americano. Embora muitos não apoiem Hillary Clinton, sentem que esta seria uma melhor opção relativamente a Trump.

Como as eleições dos EUA influenciam o Canadá
© CC BY, Wikimedia, Flanker

Quanto ao aumento da procura da imigração para o Canadá a família canadiana não se mostra surpreendida. “Sempre que um grande número de pessoas não gosta do Presidente eleito, falam sobre emigrar para o Canadá. Isto aconteceu quando George Bush foi eleito, e com Ronald Reagan também. Nunca chegam realmente a fazê-lo.” Para além disso, não mostra muita preocupação uma vez que o sistema de imigração não permite mais de 24000 imigrações durante os próximos 4 anos, devido a restrições e lentidão do processo.

A principal preocupação da família americana é a eleição de Trump, de resto não se mostra pessimista. Mostra preocupações com a situação do Médio Oriente, com os refugiados e com o preço da educação na América. As preocupações da família canadiana residem na forma como as políticas de Trump podem impactar a economia, estilo de vida e liberdade canadianos. “Também estou preocupada com o facto de que os EUA nunca abandonaram a ideia do ‘Destino Manifesto’ que serviria para que toda a área da América do Norte (incluindo o Canadá) fizesse parte dos EUA. Eu NÃO quero que o Canadá faça parte dos EUA. Eu não quero que os meus filhos vão para a guerra.”

No que diz respeito às vantagens de ter Trump como presidente, a família americana apenas diz que a América tem um sistema que permite que o Presidente não faça nada sozinho, “se o presidente quer fazer coisas que não são boas para a América, o congress e o supreme court podem interromper”. A família canadiana também não consegue reconhecer grandes vantagens para além das já indicadas. Porém, mostra preocupações na forma como Trump é visto nos outros países e afirma que “eles (Governo dos EUA) usam o medo para incentivar as pessoas a fazer o que eles querem. As suas atitudes, que são apoiadas por muitos dos que votaram nele [Trump] podem conduzir a uma maior violência contra as minorias, convidar a mais ataques terroristas e talvez continuar em busca do ‘interesse das elites’.”

No discurso de vitória de Trump, o mesmo afirma que chegou a altura do país se juntar como um povo unido. “Trabalhando em conjunto vamos dar início à urgente tarefa de reconstruir o nosso país e de renovar o sonho americano.” Salienta ainda a importância de os cidadãos realizarem o seu potencial e que “os homens e as mulheres esquecidos do nosso país não serão mais esquecidos.” Quanto às relações com o resto do mundo, refere que a América estará sempre em primeiro lugar, mas que irá trabalhar com todos de forma justa.


Conteúdo produzido por: Andreia Monteiro, Mariana Magalhães, Miguel Gonçalves, Sara Franco, Sara Miranda, no âmbito da UC de Comunicação Digital da licenciatura em Comunicação Social e Cultural.