Abandono animal aumenta com a pandemia Covid-19

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De acordo com a Polícia de Segurança Pública registaram-se em 2020, 667 animais abandonados, com um destaque nas cidades de Lisboa, Porto, Setúbal e Leiria.

A situação atípica do Covid-19 fez com que as dificuldades económicas se intensificassem, resultado do desemprego e da diminuição dos salários. São estas as principais causas para justificar o aumento do número de animais abandonados.

De acordo com algumas associações de animais, estas falam na dificuldade no acesso a bens e serviços de primeira necessidade. A Sociedade Protetora dos Animais (SPA) afirma “os nossos meios (humanos e materiais) não são ilimitados e por isso nem sempre conseguimos acorrer a todos os pedidos que nos chegam”.

Para que as associações de proteção animal possam realizar o seu trabalho, isto é, ajudar e cuidar da saúde dos animais acompanhando-os, é necessário que estas possuam fundos monetários e condições sanitárias para recebê-los. “Fizemos angariações de fundos e vendas solidárias para fazer face às despesas que aumentaram” um testemunho da associação Pêlo na Venta, seguindo a SPA que acrescentou “não recebemos quaisquer apoios do Estado”, contudo é urgente “apoiar as associações em géneros ou através da quotização de sócio ou donativo”.

A questão do voluntariado também é um foco de destaque nesta temática.

“O voluntariado é central e essencial no funcionamento da associação pois vivemos somente do voluntariado”

Associação Pêlo na Venta

Muitas das vezes, as associações não têm espaço suficiente para alojar os animais, desta maneira são os próprios voluntários a acolher os animais em suas casas para assim assegurar o seu tratamento/proteção.

Quisemos também saber a opinião das associações sobre a forma como as pessoas podem ajudar. A resposta foi praticamente unânime, “Denunciar maus-tratos e abusos em animais”, como prefere a SPA, assim como, o “apelo constante ao não abandono” dito por parte da Intervenção e Resgate Animal (IRA).

Cadela branca e cinzenta  suja e ferida na cara e patas com trela vermelha.
A cadela Sasha no momento em que foi entregue à associação Focinhos e Bigodes. © Focinhos e Bigodes

Cadela branca e cinzenta à porta.
A cadela Sasha depois de meses de apoio e cuidado pela associação Focinhos e Bigodes. © Focinhos e Bigodes

Os principais problemas encontrados nestes animais são:

  • Atropelamento;
  • Membros fraturados;
  • Subnutrição;
  • Excesso de parasitas.

Contudo, é importante referir que estes também possuem traumas psicológicos: “medo de pessoas, ansiedade de separação, agressividade…”. De acordo com a Focinhos e Bigodes, para além dos cuidados médicos estes animais precisam de “tempo, atenção, paciência e uma grande dose de amor”.

Por um lado, o número de adoções subiu durante a pandemia. As pessoas passam mais tempo em casa e têm mais tempo livre, considerando esta uma boa altura para adotar um animal com o intuito de este fazer companhia. A Pêlo na Venta adicionou que a adoção “poderá também ser um meio para as pessoas conseguirem sair mais vezes e se distraírem, bem como de terem mais motivação para o fazer”.  Por outro lado, algumas das associações que contactámos não possibilitaram a adoção, devido às restrições de contacto com as pessoas.

A nossa equipa falou com uma estudante de medicina veterinária da Universidade Lusófona, que nos conta “Recordo-me de uma vez em que chegou um cão cujo pelo além de sujo estava extremamente embaraçado, contudo, quando eu e os meus colegas tentamos tosquiar o animal de forma a poder remover o pelo danificado e tratar das feridas, este estava tão traumatizado que tentou morder-nos repetidamente”.

Por último, deixou uma mensagem para a sociedade portuguesa:

“Ter um animal de estimação é comprometermo-nos a cuidar de um ser vivo, desde o momento da sua adoção até ao seu último momento. O facto de agora passarmos mais tempo dentro de casa não deve ser razão para assumir este compromisso, pois se a adoção é apenas para preencher um vazio deixado pelo confinamento, no final o animal deixará de ter um lugar na vida do dono”.

Estudante de Medicina Veterninária da Universidade Lusófona

Direitos de autor da imagem de capa: © Associação Focinhos e Bigodes.


Conteúdo produzido por Afonso Carrilho, Gonçalo Avelar, Margarida Duarte, Mariana Sousa e Miguel Casquinho no âmbito da disciplina Comunicação Digital da licenciatura em Comunicação Social e Cultural.