Sabemos que a vida de estudante pode ser extremamente desgastante, e, na tentativa de correspondermos às elevadas exigências, o stress é algo com que muitos de nós convive no quotidiano. Normalmente, pensa-se que o burnout só aparece em pessoas mais velhas ou que já estão empregadas, mas quisemos perceber se esta síndrome pode aparecer no mundo universitário e qual o seu impacto nos alunos.
Ingressar no ensino superior é, para muitos jovens, o primeiro passo da sua vida adulta. Por isso, a pressão para ser bem-sucedido começa a ser elevada e há, pela primeira vez, o sentimento que as oportunidades de entrar no mercado de trabalho estarão muito dependentes do desempenho ao longo da sua licenciatura.
Estas pressões geram, em muitos casos, um esforço imenso para que os resultados sejam os melhores. Todavia, os estudantes universitários também têm os seus limites e, quando esses limites são ultrapassados, podem começar a sofrer da síndrome de burnout.
«O burnout é uma reação disfuncional ao stress cumulativo e prolongado. A exaustão emocional é o resultado das exigências académicas. O cinismo, a atitude apática e de indiferença em relação às atividades académicas geram uma baixa eficácia», explica Samuel Pombo, psicólogo clínico e professor na Faculdade de Medicina de Lisboa.
Os principais sinais são as dores de cabeça e nas costas, distúrbios de sono (insónias), cansaço extremo (tanto a nível físico, como emocional), descontrolo emocional, ansiedade (até nas tarefas mais simples), problemas de concentração e apatia.
«O burnout é uma reação disfuncional ao stress cumulativo e prolongado. A exaustão emocional é resultante das exigências académicas», explica Samuel Pombo, psicólogo clínico e professor na Faculdade de Medicina de Lisboa.
Posteriormente, a exaustão pode levar à degradação das relações com amigos e familiares, a um desinteresse para com as suas responsabilidades (deixar de estudar, não comparecer às aulas e incumprimento de horários), bem como o descontrolo emocional pode passar a fazer parte do quotidiano do aluno. Diogo Barros, que desistiu do curso de Medicina em Lisboa e foi estudar Física para o Porto, diz que «começou a sentir ódio a tudo o que tivesse a ver com a faculdade, falta de motivação e um desespero associado à quantidade de trabalho que sabia que tinha de fazer».
De acordo com o relatório da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC), referente ao ano letivo de 2010-2011, 29% dos inquiridos desistiu da faculdade, e as dificuldades escolares dos alunos são a principal causa do abandono no ensino superior.
Segundo o mesmo relatório, apenas 51% dos inquiridos havia terminado a licenciatura em Direito ao fim de 4 anos e 35% mudaram de curso ou desistiram do ensino superior. Raquel Santos, ex-estudante de Direito e que apresentava alguns sinais de burnout, é exemplo disto: «Tinha aproveitamento zero das aulas. De cada vez que abria um livro começava a chorar compulsivamente. Dormia muito pouco e também comia pouco. Cada vez que pensava no assunto chorava.»
Diogo Barros, que desistiu do curso de Medicina em Lisboa e foi estudar Física para o Porto, diz que «começou a sentir ódio a tudo o que tivesse a ver com a faculdade»
Quando o estudante percebe que algo está errado, deve começar por procurar ajuda especializada. No entanto, muitos recusam-se a fazê-lo e tentam resolver este problema por si mesmos. «Não falei com ninguém sobre quão mal estava, nem a amigos ou ao médico. Isso, provavelmente, piorou toda a situação», revela Raquel.
No caso de Joana Moreira, estudante de Psicologia, foi o médico que lhe pôs o travão: «Ele disse-me muito frontalmente: “Ou para agora, ou vai ter de ser internada com um esgotamento”.» Em resultado disso, Joana congelou a matrícula e, neste momento, está a fazer um gap year para voltar à «normalidade».
Outro caso relevante é o de Catarina, estudante de Comunicação Social e Cultural. Há dois anos que era acompanhada por uma psicóloga, mas, desde que começou a conciliar o estágio com a aulas na faculdade, afirma que «andava a arrastar-se para todo o lado».
Catarina, estudante de Comunicação Social e Cultural, revela que «andava a arrastar-se para todo o lado»
Apesar da faculdade ser uma fonte de stress, muitos universitários que estão à beira do esgotamento não consideram parar de estudar, preferindo apenas mudar de curso ou parar com outras atividades fora da faculdade. Catarina confessa: «Não considerei parar de estudar, mas desisti do estágio, porque a licenciatura é a minha prioridade.»
Um em cada três trabalhadores em Portugal está em risco de burnout, por isso, as estatísticas atuais, em relação à saúde mental dos portugueses, já não são nada favoráveis para os universitários. Samuel Pombo acrescenta que «esta síndrome está associada a comportamentos de risco, impaciência, falhas no planeamento estratégico de objetivos, podendo colocar os estudantes em risco futuro».
Catarina conta que tinha uma atitude bastante derrotista e estava com a autoestima completamente destruída: «Sentia-me derrotada e que no meu futuro ia acabar por ser miserável.» Os universitários de hoje são os trabalhadores de amanhã. Enquanto este problema subsistir, estamos a pôr em risco o futuro próximo do país.
Foto de capa: Image by Pexels, Public Domain
Conteúdo produzido por: Ana Rita Monteiro, Beatriz Cavaca, David Oliveira, Gabriela Luís, Leonardo Bordonhos e Maria Veríssimo, no âmbito da UC de Comunicação Digital da licenciatura em Comunicação Social e Cultural.