Fim do Confinamento: e agora? Dois meses depois de Portugal declarar Estado de Emergência, começa o Plano de Desconfinamento. Os cuidados mantêm-se: recolhimento domiciliário, distanciamento social e uso obrigatório de máscara em locais públicos. Os efeitos económico-sociais, provocados pelo vírus, começam agora a ser sentidos psicologicamente.
Plano de Desconfinamento
Apesar de Portugal ter sido um dos países mais rápidos a colocar as medidas de confinamento em prática, não é por isso um dos primeiros a retirá-las. Em Itália e Espanha, dois dos países mais afetados na Europa pelo vírus COVID-19, o regresso à normalidade foi feito, respetivamente, duas e três semanas mais cedo que em Portugal.
O plano de desconfinamento vai desenrolar-se em três fases, com o objetivo de tentar repor a normalidade na economia: Iª Fase a 4 de Maio, IIª Fase a 18 de Maio e IIIª Fase a 1 de Junho. À medida que as fases se forem sucedendo, as restrições irão diminuindo.
A Direção Geral de Saúde vai colocar em prática regras especificas para cada setor de atividade. Os transportes terão de ter uma limitação de 2/3 da sua capacidade e o comércio local terá de ter uma lotação máxima de 5 pessoas por cada 100 m2.
Aglomerações ou eventos como elevadas lotações (como festivais) estão proibidos e, numa altura em que o verão parece estar a bater à porta, as medidas de acesso à praia terão de ser rigorosamente respeitadas.
Crise Económica
Com esta paragem forçada, e com o modo como foram vividos os últimos dois meses, o regresso à verdadeira normalidade deverá demorar muito mais tempo.
Declarado o Estado de Emergência em Portugal, várias pessoas se viram forçadas a alterar o seu local de trabalho para um ambiente caseiro e que permitisse o trabalho à distância – o teletrabalho – uma estratégia adotada por algumas empresas. O objetivo era não perder os rendimentos e ao mesmo tempo respeitar o confinamento e evitar a propagação do vírus. Os estabelecimentos de ensino escolheram esta opção, com o Governo a criar uma nova plataforma de telescola.
Enquanto isso, milhares de empresas viram-se forçadas a fechar temporariamente ou em laboração parcial. O layoff foi uma das estratégias a que muitos empresários recorreram, despedindo algumas pessoas e suspendendo outras, medida que abrangeu mais de 930 mil trabalhadores.
De acordo com o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) o desemprego subiu para um total de 355 mil. Com o impacto que o vírus terá na economia, a Comissão Europeia prevê uma quebra de 6,8% no PIB Português em 2020, uma crise que, a confirmar-se, será a maior dos últimos 80 anos.
Crise Social
Desempregados ou sem grande parte dos seus ordenados, os portugueses vêem-se ainda afastados de familiares ou amigos, sem poder sentar-se num café tranquilamente, e sem poder andar livremente pelas ruas sem serem permanentemente assolados pelo medo do contágio iminente.
Estudos do Instituto de Psicologia Clínica e Forense, em Portugal, perspetivam que cerca de 20% da população fique “severamente” afetada psicologicamente devido a esta nova realidade. O Serviço Nacional de Saúde, já implantou uma rede (através do 808242424) onde são dadas consultas de acompanhamento psicológico, dado o embate que a sociedade está a sentir nesse campo.
De acordo com esses estudos, cerca de 33% da população portuguesa afirma sentir-se num estado de depressão, ansiedade ou stress. Estas consequências psicológicas derivam do Estado de Isolamento Social.
Conversas feitas por trás de uma máscara ou viseira, mortes de familiares infetados, o modo como passam os tempos livres (sem poder sair de casa) e o abrandamento do ritmo de vida, que inicialmente poderia parecer um paraíso, mas que dois meses depois começa a mostrar sinais de inquietação, têm estado na origem das perturbações na saúde mental dos Portugueses.
A Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) tem afirmado a sua preocupação no reforço do acompanhamento psicológico nos centros de saúde, como relatou o Jornal Público, no início de maio.
David Neto, presidente do Conselho de Especialidade de Psicologia Clínica e da Saúde da OPP, é da opinião que muitas destas patologias já estavam presentes nas pessoas, e que a pandemia poderá potenciá-las, havendo um maior risco de suicídio, consumo abusivo de álcool e outras substâncias.
Esperança Futura
Idas à praia, a um festival de verão, a um bar ou a um café, poderão parecer algo que atenue estes estados mentais, agora que começa o desconfinamento. Contudo, todas estas práticas estão, para já, proibidas ou restringidas.
Para além disso, mesmo depois da estabilidade, poderá ainda demorar até que as pessoas se sintam completamente seguras, e as relações que mantém socialmente não serão feitas da mesma forma.
O medo de contágio, e a habituação ao distanciamento que estes últimos meses provocaram, alteraram muito o psicológico das pessoas, que poderão ter dificuldades em regressar à normalidade, mesmo quando o perigo tiver passado. Até lá, mantém-se a incógnita relativamente ao trabalho, à remuneração e à forma como irão as famílias portuguesas sobreviver a esta crise económica e psicológica.
Por agora, resta-nos a esperança de que tudo irá ficar bem, e de que, mais cedo ou mais tarde, poderemos voltar a abraçar quem mais gostamos, sem máscaras, sem viseiras, sem luvas ou desinfetante, sem distanciamento e, acima de tudo, sem medo.
Conteúdo produzido por: Afonso Godinho, Carolina Inácio, Francisco Lima, Madalena Lourenço, Matilde Ribeirinho e Rafaela Fonseca, no âmbito da UC de Comunicação Digital da licenciatura em Comunicação Social e Cultural.