Todos os verões milhares de jovens aventuram-se até aos mais remotos cantos de Portugal seguindo a promessa de dias repletos de sol, boa música, pessoas interessantes e peripécias que ainda lhes são desconhecidas.
Embora tudo isto seja alcançável e perfeitamente compreensível, nem sempre a projeção mental das festividades feita por estes, se torna efectiva.
Para alguns, a travessia de suas casas para o festival em si ainda é longa, e já nesta se registam alguns acidentes rodoviários causados em parte pelas pessoas que não conseguiram esperar para chegar a Paredes de Coura ou a Zambujeira do Mar para começarem a sua jornada em direção a intoxicação alcoólica. Ainda nestas rotas de alcatrão, onde a vontade de chegar está em constante co-relação com velocidade, e consequentes multas, muitos indivíduos são impossibilitados de chegar ao seu destino pois são parados em operações STOP nas quais algumas vezes é detetada a posse de estupefacientes.
Ao chegarem ao local do evento, deparam-se com uma segurança apertada que inclui cães farejadores mas mesmo assim alguns traficantes e consumidores de droga tentam passar incógnitos por uma muralha de polícia. Muitos são presos, alguns são alvo de contra-ordenações e a maioria da droga acaba por entrar no festival dando origem a algumas overdoses.
Já dentro do recinto em que se desenrola o festival, os festivaleiros, depressa se dedicam a arte de colecionar brindes de néon, sejam estes sticks e colares ou ainda a mais recente moda, pintarem o seu corpo com tinta que brilha no escuro. Para além destes objetos coloridos, existe uma vasta panóplia de objetos colecionáveis sem qualquer tipo de valor como chapéus de malha e canetas patrocinadas por bebidas ou operadoras de comunicação. De todas as actividades lúdicas que se praticam nestes festivais esta parece ser a mais inofensiva mas talvez a mais irritante após alguns dias de convivência com a mesma.
Com o passar dos dias que se permanece no festival, a roupa começa a ficar desgastada, rota, cheia de terra e com o cheiro entranhado de inúmeras bebidas alcoólicas. As horas de sono que os festivaleiros têm são as mesmas que teria alguém
interrogado pela PIDE, dado o número de picadas de mosquitos que têm na pele desgastada pelo sol, parecem ter passado alguns meses no Vietname e os seus pés são dignos de peregrino que foi descalço até Fátima.
Esta visão fatalista e quase apocalíptica nada mais é do que um catálogo de factos que marcam o verão e por vezes as vidas de adolescentes e adultos por todo o país. Mas nenhuma destas tormentas destrói o desejo de embarcar na loucura dos festivais de verão, aos quais, um dia vão tentar proibir os seus filhos de ir.
Conteúdo produzido por: Márcia Wambembe, Matilde Vieira Almeida, Gonçalo Carneiro, e João Marques no âmbito de UC de Comunicação Digital das licenciaturas em Comunicação Social e Cultural.