Arte no apoio aos Refugiados

Nisreen, Bailado pelos Refugiados

Filipa Duarte, de 21 anos, aliou a dança ao teatro para ajudar a mostrar uma história real de uma refugiada síria, Nisreen, aos olhos de uma voluntária da PAR – Plataforma de Apoio aos Refugiados. O resultado foi Nisreen, Bailado pelos Refugiados que esteve em cena em Lisboa, apresentado em Julho  do ano passado mas que regressou em Março do presente ano.

Em conversa Filipa contou-nos mais pormenores sobre o espetáculo bem como a importância que dá a este tipo de iniciativas para lidar com um problema tão atual como a Crise dos Refugiados.

Filipa Duarte como Nisreen
Filipa Duarte – Nisreen, Bailado pelos Refugiados ©Filipe Condado
Qual foi o objetivo do bailado?

Os dois grandes objetivos deste espetáculo foram: angariação de fundos para a PAR e alertar as pessoas para a necessidade de ajudar a combater esta crise, com os meios e condições disponíveis, sejam eles o talento e a arte ou o tempo e dinheiro para ajudar num campo de refugiados. Há muita coisa que se pode fazer.

Acha que os objetivos foram cumpridos?

Sim, sem dúvida nenhuma que sim. Esta peça foi estreada em Julho e a adesão foi tanta que foram precisas mais duas sessões em Março para mostrar às pessoas esta história. Os convites para futuros espetáculos não param de surgir. Impressionou-me muito a forma como enchemos duas sessões de 500 pessoas. Enquanto grupo, sentimos que os dois objetivos foram cumpridos: angariámos uma grande quantia de dinheiro para a PAR e a história da Nisreen, um exemplo no meio de tantos outros refugiados, tocou o coração de muita gente.

A história da Nisreen, um exemplo no meio de tantos outros refugiados, tocou o coração de muita gente.

De onde surgiu a ideia para a criação do espetáculo?

A ideia de construir este espetáculo foi da Rita Coelho, uma voluntária da PAR que esteve em contacto directo com vários refugiados na Grécia. A Rita é a diretora artística desta peça, mas é também médica pediatra. Partiu em missão para a ilha de Lesbos, na Grécia, onde trabalhou como voluntária na Plataforma de Apoio aos Refugiados. Quando regressou de missão, a Rita sentia uma grande responsabilidade de dar voz às histórias que se cruzaram nos seus dias. Contudo, sentia também uma enorme dificuldade em traduzi-las por palavras e manter-se fiel ao que tinha testemunhado. “As palavras não chegavam”, era o que a Rita sempre dizia. Para dar vida a esta história através da arte, a Rita pediu ajuda à coreógrafa desta peca, Carolina Themudo. Juntas, ilustraram e criaram este bailado que tão bem retrata o percurso de um refugiado.

Qual foi a receptividade do público?

O público não ficou indiferente à história de vida da Nisreen: “NISREEN é muito mais do que um espetáculo de corpos e sons em movimento… NISREEN é expressão da Esperança em movimento, um apelo à nossa capacidade de sentir o outro e de nos revermos no outro como humanos que somos. (…) O sorriso saiu-me de dentro mesmo. Tudo mexeu comigo. Fez-me bem.”. O público definiu este bailado como um grito de coragem e um excelente contributo para encurtar distâncias e tornar-nos mais próximos dos milhares de homens, mulheres e crianças do nosso tempo a quem esta crise atinge com tamanha violência.
É nestes comentários que ouvimos e lemos que percebemos que a mensagem passou e o objetivo de tocar o coração do público foi cumprido.

O público definiu este bailado como um grito de coragem e um excelente contributo para encurtar distâncias e tornar-nos mais próximos dos milhares de homens, mulheres e crianças do nosso tempo a quem esta crise atinge com tamanha violência.

Como foi a participação da Nisreen no processo de construção da peça?

A Nisreen foi-me introduzida pela Rita Coelho. Depois de uma apresentação formal sobre o percurso de vida da Nisreen, tive o privilégio de conversar com ela pelo Skype, várias vezes. Ajudou em tudo o que pôde: enviou vídeos tutoriais sobre como colocar o lenço na cabeça, descreveu detalhadamente cada um dos momentos da peça para que não faltasse nada e partilhou connosco a história da sua vida, com total transparência, para que a emoção pudesse ser transmitida para o público da forma mais real possível.

Qual a opinião da Nisreen depois de ver a peça?

Depois de múltiplos agradecimentos a toda a equipa, a Nisreen explicou que a peça retratava de forma muito simples e clara o percurso de um refugiado. Durante o espetáculo – assistido por Skype – reviveu vários momentos do seu passado, reavivando memórias e sentimentos que só ela sabe o peso que têm…

Nisreen explicou que a peça retratava de forma muito simples e clara o percurso de um refugiado.

A experiência de elaborar e fazer parte desta peça fez com que se dedicasse mais ao tema dos refugiados, fez com que fizesse mais pesquisa?

Este projeto entrou na minha vida e fez-me abrir os olhos para uma realidade que, para todos nós, é desconhecida. Por mais que pesquisemos, é importante consciencializarmo-nos de que pouco sabemos sobre a crise dos refugiados. Ter o privilégio de dar corpo à Nisreen inquietou-me e transformou-me. Sinto uma enorme vontade de ajudar, uma compaixão tremenda pelos que sofrem e uma necessidade de transmitir esta mensagem a todo o mundo.

Se tivesse a possibilidade gostarias de fazer voluntariado num campo de refugiados, agora que conheces melhor a sua realidade?

Pensei várias vezes sobre isso. Se pudesse, largava tudo e ia dar apoio num campo de refugiados. Infelizmente, o momento certo ainda não se proporcionou e, no entretanto, ajudo como posso: através da arte.

Qual o papel que vê na arte acerca deste tipo de temas da atualidade?

Tal como a Rita sempre diz, as palavras não chegam para retratar temas tão delicados como este. Esta história toca e mexe no coração e não há melhor meio do que a arte para transmitir de forma clara os sentimentos e a emoção de uma história tão forte como a da Nisreen. Seria bom continuar a ver mensagens como esta a serem contadas através da dança, pintura, teatro, ou qualquer outra forma de arte. É importante pormos os nossos talentos ao serviço.

Seria bom continuar a ver mensagens como esta a serem contadas através da dança, pintura, teatro, ou qualquer outra forma de arte.

Acredita que o futuro para tocar nestes temas é através deste tipo de iniciativas, chamar à atenção das pessoas por outro tipo de vias, não apenas pelas notícias?

Depois deste projeto, não tenho dúvidas de que há certos temas que merecem mais atenção do que uns meros minutos de leitura rápida de jornal. O futuro destes temas pode e deve passar por este tipo de iniciativas. Acredito que o projeto Nisreen será um primeiro exemplo para muitos outros artistas que têm histórias fortes para partilhar com o mundo.

Quer ajudar a PAR – Plataforma de Apoio aos Refugiados?

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Conteúdo produzido por Bárbara Félix, Filipa Graça, Madalena Limão e Maria João Rodrigues, no âmbito da disciplina de Comunicação Digital, da licenciatura em Comunicação Cultural e Social.