Dunkirk: o Milagre que inspirou o Cinema

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Passam 78 Anos da Operação Dínamo e a indústria cinematográfica relembra esta manobra militar histórica com Dunkirk, o filme onde triunfa a acção sobre o diálogo, de forma a permitir ao espectador uma experiência de guerra quase real.


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Imagem alusiva ao filme ”Dunkirk” do realizador de dupla nacionalidade inglesa e norte-americana Christopher Nolan. (“09” de Márk Ángyán, está licenciado por Flickr para domínio público, CC0)

Os grandes acontecimentos históricos sempre inspiraram o cinema e a literatura, mas há uma batalha em especial que se assume como fonte de inspiração tanto para escritores como realizadores: o Milagre de Dunkirk. O filme, de Christopher Nolan, foi o que mais lucrou nas bilheteiras sob o tema da Segunda Guerra Mundial até hoje. Dunkirk caracteriza-se pelo relato de sobrevivência e ritmo frenético de uma fuga considerada impossível. Um filme de tensão do início ao fim.

História

A Operação Dínamo, mais conhecida como o Milagre de Dunkirk, uma batalha da Segunda Guerra Mundial travada entre 25 de Maio e 4 de Junho de 1940. Soldados aliados do Império Britânico, França e Bélgica encontravam-se rodeados pelo exército alemão, sem possibilidades de fuga, na esperança despida de serem resgatados enquanto tentavam sobreviver ao bombardeamento aéreo da Luftwaffe, a força de aviação alemã.

A operação militar apresentava como intenção inicial a evacuação de 45 000 homens da Força Expedicionária Britânica desde a cidade francesa de Dunkirk até à cidade de Dover, no sudoeste de Inglaterra. Sob fogo cerrado da artilharia e força aérea alemã, milhares de soldados foram evacuados, tendo sido alterado o objectivo primordial para o resgate de 120 000 homens. Segundo os registos históricos da Enciclopédia Britânica, foi graças às embarcações civis que se envolveram na evacuação, por ordem do então Primeiro-ministro Britânico, Winston Churchill, que, ao atravessarem o Canal da Mancha do Reino Unido para França em busca de sobreviventes, conseguiram salvar, ao todo, mais de 300 mil soldados britânicos e franceses.

Mesmo tendo sido resgatados milhares de soldados, cerca de 80 mil homens morreram, 40 mil foram capturados, a Royal Air Force (aviação britânica) perdeu 177 aviões e a Luftwaffe 132. Ao todo, 240 navios naufragaram e as baixas humanas marcaram ferozmente a moral dos soldados, tendo sido necessários meses para repor todas as perdas materiais do exército britânico.

Ainda assim, a Operação Dínamo foi vista como um verdadeiro milagre pois, apesar da pesada derrota, a evacuação revelou-se um motivo de esperança. “Nós vamos até ao fim”, assegurava Churchill num dos seus mais emblemáticos discursos referentes à operação. E acrescentou: “lutaremos em França, lutaremos nos mares e oceanos, lutaremos com confiança crescente e força crescente no ar, defenderemos a nossa ilha, qualquer que seja o custo”. Tal como dita a História, estas não foram palavras vãs.

 

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Fotografia dos soldados na praia de Dunkirk durante a evacuação de 1940. (“Dunkirk 26-29 May 1940” by Autor Desconhecido, WikiMedia Commons is in the Public Domain, CC0)

O impacto de Dunkirk no espectador

Christopher Nolan, cineasta e produtor anglo-americano, defende o seu estilo singular ao afastar-se das obras cinematográficas caracterizadas pelo diálogo intenso. Adopta um “estilo mudo’’ para, nas palavras do cineasta, oferecer um maior destaque ao retrato do conflito. Em inúmeras entrevistas acerca da obra, Nolan esclarece que esta linha condutora de storytelling serve sobretudo para “retratar de forma mais autêntica” este momento-chave da Segunda Guerra Mundial.

Dunkirk assume a máxima do cinema narrativo ao tornar viva a identificação e participação do público com o que é visto em cena, possibilitando ao espectador vivenciar o terror sentido pelos soldados. Numa entrevista transcrita no livro Dunkirk: The History Behind the Major Motion Picture, de Joshua Levine, Christopher Nolan afirma que o seu filme “é de suspense, mas tentamos levar o suspense visceral o mais longe possível. Assim sendo, usa a linguagem dos filmes de terror, definitivamente.’’ Quando questionado acerca dos relatos dos veteranos que conheceu, confessa a necessidade em falar com pessoas que tivessem realmente estado na batalha, de modo a conseguir transportar esta experiência para o cinema.

Com algumas cenas capturadas com câmaras IMAX, o realizador utiliza alguns elementos básicos da linguagem cinematográfica, como é exemplo a montagem paralela e a música. Hanz Zimmer, produtor e compositor da banda-sonora do filme, fez com que a melodia que acompanha a narrativa conduza os espectadores a uma tensão crescente, pontuando os momentos dramáticos, permitindo assim uma maior identificação entre a audiência e o sentimento experimentado pelas personagens.

Pós-doutorada em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e, actualmente, professora da Universidade Católica Portuguesa, Catarina Burnay afirma que esta se trata de “uma narrativa histórica, de base real”. Segundo a professora, o sucesso do filme relaciona-se com o facto de “as pessoas desenvolverem o seu gosto pelas experiências – mesmo a nível audiovisual” e admite que “este tipo de filmes existe para chegar ao público”.

A especialista em ficção televisiva explica ainda que “sempre se fizeram filmes sobre o período da Segunda Guerra Mundial por ser glamoroso, pelas roupas, pela angústia que provoca, por permitir cenas espetaculares a nível de guerra”. Catarina Burnay realça também a importância de uma perspectiva histórica, indicando que “cada vez mais, em ficção, os produtos que mais impacto têm são os históricos”.

A cerimónia dos Óscares decorreu no passado mês de Março e Dunkirk esteve nomeado para várias categorias, tendo ganho as estatuetas de melhor edição de filme, melhor edição de som e melhor mixagem de som.


Conteúdo produzido por Constança Sequeira, João Ferreira, Rafaela Longras, Susana Silva e Teresa Mosqueira, no âmbito da Unidade Curricular de Comunicação Digital da Licenciatura em Comunicação Social e Cultural.