#FestivalEuFicoEmCasa: Não poder sair de casa, não significa que a música não possa vir até nós. O festival decorreu entre 17 e 22 de Maio no Instagram e durante seis dias, veio provar, através de concertos diários e gratuitos, que a criatividade e o talento português não têm limites. Conheçam a experiência de três artistas em primeira mão: André Sardet, Ricardo Ribeiro e João Pedro Pais.
Foram inúmeros os cantores, agências e editoras que participaram nesta iniciativa de forma a sensibilizar a população para o isolamento social. A música é uma das nossas maiores aliadas nos momentos mais difíceis e, perante o contexto de pandemia, a cultura não podia deixar de estar presente.
Experiência dos concertos online
O Festival Eu Fico em Casa foi uma iniciativa muito bem recebida, quer pelos artistas quer pelo público em geral. A recetividade era incerta, uma vez que os concertos são maioritariamente feitos numa componente física e presencial. Ainda assim, a adaptação ao meio digital teve sucesso e foi “uma iniciativa divertida e interessante de se fazer parte”, confessa o artista André Sardet. Este, refere que tentou fazer algo diferente, mostrando ao público em casa letras de canções e mostrar a sua guitarra preferida.
”Esse é o grande desafio dos próximos tempos, humanizar as plataformas digitais.”- André Sardet.
A música é de facto, uma integrante-mor na vida dos cidadãos e é importante saber fazê-la aparecer de diversas formas na vida das pessoas. Hoje em dia, no modelo online, existem diversas plataformas de difusão dos produtos musicais dos artistas. Deste modo, o Festival Eu Fico em Casa possibilitou trazer ao público através do Instagram vários géneros de música, desde a música tradicional portuguesa, o rock, o rap português e ainda o hip-hop, que contou com mais de 700 mil visualizações. Foram 78 artistas que se conseguiram conectar com o seu público, cantando e respondendo a várias perguntas e curiosidades do povo português.
Iniciativas semelhantes, foram o One World Together at Home, festival de música com artistas internacionais, aos quais permitem corromper de certa forma com o afastamento sentido em tempos de pandemia, colocando todos lado-a-lado, ao mesmo tempo e em qualquer lugar, algo que é essencial num momento em que a união é imprescindível. Foram mais de 114 artistas entre eles, alguns convidados: Lady Gaga, Paul McCartney, Billie Eilish, Eddie Vedder, Celine Dion, Elton John entre outros, fizeram-se ouvir na noite de 18 de abril. Em Portugal esta iniciativa foi transmitida pela Rádio Comercial, Youtube, MTV e TVI tendo começado à 1 hora da manhã.
Se tem interesse por iniciativas semelhantes, poderá ainda ouvir online a Filarmónica de Berlim, através da Internet, no website da Digital Concert Hall, que tem agora acesso livre. Lá, poderá ter acesso gratuito a livestreams, concertos e entrevistas à prestigiada banda filarmónica alemã dirigida por Herbert von Karajan.
A Casa das Artes de Famalicão comemora 19 anos de existência, e por isso, disponibiliza vários concertos transmitidos no seu Facebook, como é o caso de Valter Lobo às 21.00h e de White Haus às 23.00h no sábado. Por último, sugerimos assistir à atuação de Sharon Van Etten ao vivo na sua casa de Los Angeles, sexta-feira às 21:30h através deste website.
João Pedro Pais fez parte da iniciativa “Festival Eu Fico em Casa” © João Pedro Pais
João Pedro Pais, outro artista integrante do Festival Eu Fico em Casa confessou que não ter uma reacção imediata por parte do público levou a um silêncio um pouco assustador, e que, em nada se pode comparar às atuações ao vivo. O cantor revela-nos que “embora as características do modelo online sejam de facto distintas daquelas a que estávamos habituados a viver, a experiência dos concertos online teve um balanço positivo”.
O artista ainda refere que é interessante ver como podemos estar a viver um momento de pandemia mas, ainda assim, estar “musicalmente em sintonia”, uma vez que estavam 17 mil pessoas do outro lado do ecrã a apoiar a iniciativa do festival português.
Ricardo Ribeiro, músico de 38 anos revela que não é muito dado às redes sociais, mas que ainda assim, foi uma experiência positiva pois sentiu gratidão do outro lado do ecrã mesmo não podendo ver o seu público. Existe de facto uma importância em fazer a arte sentir-se num conjunto nos momentos mais frágeis e o artista confessa precisamente que “queria fazer algo para as pessoas, que lhes fizesse bem à alma”.
De entre os vários desafios que os concertos via digital comportam, há uma clara diferença entre a energia transmitida pelo público no decorrer dos concertos e, por isso, os artistas apesar da boa experiência, continuam a preferir pisar o palco.
Recetividade e impacto do Festival
Em geral, as pessoas acreditam que os festivais de música online são uma forma criativa de superar a impossibilidade de aglomerações. Esta, foi uma das opiniões positivas constatadas pelo questionário promovido pelo Digital Hub, bem como a ideia de que também se procura reinventar a indústria, numa altura em que estamos a reinventar também a nossa forma de estar na sociedade.
Este tipo de entretenimento vem revelar-se como uma alternativa aos conteúdos televisivos tanto nacionais como internacionais, que dado à sua repetição, deixam pouco a desejar. Festivais como este mostram um lado mais pessoal e humano dos artistas que nem sempre é passível de se ver em concertos ao vivo e em grande escala.
Os diretos de Instagram internacionais mais vistos são o de Andrea Bocelli, Villa Mix e Sandy e Júnior. Relativamente a artistas portugueses, os diretos mais vistos foram o da Bárbara Tinoco, Luís Severo, Diogo Piçarra, Murta, Luísa Sobral e Tiago Bettencourt.
Adesão às atuações digitais
Uma opinião generalizada é que o facto de os concertos serem gratuitos leva a uma promoção da cultura mais elevada, e para este fim encontramos vários motivos: este tipo de entretenimento traz mais qualidade de vida a quem se encontra em quarentena, é visto como uma ocupação saudável, por ser gratuito torna-se acessível a todo o tipo de pessoas, sendo uma forma mais fácil e económica de toda a família ter acesso a práticas culturais.
Por ser uma plataforma acessível a mais pessoas permite também uma maior divulgação de artistas e de géneros musicais que, talvez algumas pessoas poderiam ter curiosidade em conhecer mas, não queriam despender monetariamente para um bilhete do qual, não tinham a certeza se iriam ou não gostar da experiência. As atuações digitais, pelos conteúdos que partilham são uma forma física de arte e, por sua vez, de cultura.
A Time Out, uma revista de guia portuguesa, teve de adaptar o seu conteúdo devido ao contexto da pandemia, mudando até o nome para Time in, explorando o tema dos festivais online. Catarina Ferreira, profissional de curadoria e comunicação da revista, aborda que os festivais são uma forma dos artistas manterem seu trabalho e também de continuarem a comunicar com o seu público, para além de terem de ser criativos e adaptarem-se rapidamente ao novo contexto.
A maioria destes festivais online são gratuitos, ou seja, nem o artista e a equipa são pagos, o que a jornalista aponta como uma desvantagem. Outra razão que também fica em desigualdade é o facto de a qualidade ser normalmente fraca, pois nem sempre as ligações de internet permitem uma visualização tão boa, o que acaba por tirar a graça, não sendo uma experiência tão gratificante como estar fisicamente presente nos espetáculos.
Fotografia de capa: © Ricardo Ribeiro
Conteúdo produzido por: Alexandra Pires, Carolina Monteiro, Catarina Figueiredo, Helena Faísca, Joana Alvito, e Júlia Costa, no âmbito da UC de Comunicação Digital, da Licenciatura em Comunicação Social e Cultural.