Figuras Feministas na Literatura

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Feminismo, um dos temas com mais destaque nos últimos anos tem já lugar na literatura à vários séculos. A desigualdade de género e a opressão da sociedade patriarcal é representada nas obras de Jane Austen, Louisa May Alcott e Henrik Ibsen, através das suas personagens femininas fortes.


capa dos livros Orgulho e preconceito e Mulherzinhas
Capas das obras literárias ” Orgulho e Preconceito” e ” Mulherzinhas” ©️Bertrand

Personagens femininas com uma voz forte

” De que forma é que as personagens Elizabeth Bennett e Jo March apoiam o feminismo?” Ao ser perguntada sobre sugestões de leitura que remetem à desigualdade de género, a vice-diretora da Faculdade de Ciências Humanas, Professora Doutora Alexandra Lopes, sugere a leitura de Orgulho e Preconceito e Mulherzinhas, nas quais é visível a sua recusa de viver consoante os padrões que a sociedade em que vivem lhes tenta incutir.

Estas obras trazem-nos uma clara visão de como era ser uma mulher no século XIX, onde o principal papel do sexo feminino era casar e uma mulher ter um emprego, era bastante mal visto. Confira, a seguir, a entrevista com a Professora Doutora Alexandra Lopes


Porque sugere estes livros em particular? 

Escolhi estes livros, porque são todos romances  – que encenam possibilidades alternativas da existência feminina no espaço social. Todos eles têm, no centro, uma personagem feminina com um percurso singular e uma personalidade vincada, em Orgulho e Preconceito temos a Elizabeth Bennett e na obra As Mulherzinhas temos a Jo March.

São mulheres fortes que resistem, de formas diferentes, à conceção tradicional de mulher.

Qual a principal mensagem das obras?  

Os livros falam de temas e preocupações diferentes, mas todos propõem um olhar diferente sobre a mulher do século XIX  e todos encorajam as leitoras a não se conformarem com os papéis sociais que lhes foram tradicionalmente atribuídos: a ter uma opinião [em Orgulho e Preconceito] e a exercer uma profissão [no livro As mulherzinhas]. 

Em que aspeto é que estes livros demonstram a questão da desigualdade de género? 

Todos estes livros fazem, por um lado, o diagnóstico da situação desprotegida da mulher na sociedade contemporânea – em Orgulho e Preconceito,  existe a transmissão da propriedade por via masculina, em que a mãe das irmãs Bennett não tem direito a manter a sua própria casa e está propriedade fica por direito na posse de um primo longínquo.

Enquanto, que na obra de Louisa May Alcott, são retratadas as dificuldades no exercício de uma profissão não tradicional, onde a personagem Jo March quer ser escritora e a sua irmã Amy quer ser pintora.

São obras que apresentam protagonistas femininas que combatem os estereótipos e se afirmam, pela palavra e pela ação, como seres pensantes que se interrogam e às condições que as tolhem

Professora Doutora Alexandra Lopes

Acresce que, sendo todas escritas por mulheres, as obras corporizam desde logo aquilo que defendem – as mulheres têm uma voz própria e devem fazer-se ouvir no espaço público.


A primeira personagem feminista

Docente da FCH, professor doutor Jorge Fazenda Lourenço, sugere a peça de teatro Uma Casa de Bonecas do autor Henrik Ibsen.

        A protagonista, Nora, é considerada a primeira personagem feminista moderna! – Jorge Fazenda Lourenço

Publicada em 1879, é uma obra fulcral para a criação de uma sociedade o mais igualitária possível nos países nórdicos e demonstra vários exemplos de desigualdade de género através da personagem Nora Helmer.

A história decorre na época natalícia e o casal Helmer, prepara-se para um baile de natal, onde Nora é terá de dançar uma dança italiana chamada Tarantella, segundo as ordens do seu marido.


No segundo acto, antes da noite do baile, Nora pergunta a Torvald, o seu marido, senão merece ser elogiada por usar a fantasia que ele escolheu e este responde-lhe : “ Elogiada? Porque obedeceste ao teu marido? Ora, ora, sua maluquinha,  eu sei que não era isso o que querias dizer.” – denotando mais uma vez, a desigualdade de género, neste senso de propriedade do sexo masculino sobre o sexo feminino no século XIX.

Após o baile, no terceiro acto, Nora vai para a sala de estar e Torvald , olha-a fixamente e diz-lhe: Não posso olhar para o bem, mais precioso que possuo?” aqui continuamos a ter a perceção que este, tem de Nora como sua propriedade.

Ainda na sala de estar, a senhora e o senhor Helmer, tem uma conversa decisiva, a seguir a uma decisão chocante de Nora, em que Torvald afirma que a obrigação mais importante da senhora Helmer é ser uma esposa e mãe, com sua resposta, “ Acredito que em primeiro lugar, sou um ser humano, tal e qual como tu.” – combatendo assim a ideologia da superioridade do século masculino.

No fim desta peça, a protagonista tem uma epifania e reflete sobre a sua vida, apercebe-se que nunca foi feliz e que tanto o seu pai, como o seu marido, a trataram como se fosse uma boneca, e esta por sua vez, nunca teve uma verdadeira opinião e apenas moldou os seus gostos e preferências, de acordo com o seu marido e o seu pai.

Apercebeu-se que o seu casamento não passou de um teatro, e a sua vida não foi mais do que uma brincadeira de crianças, onde todos são e agem como bonecas, moldados talvez,  por uma sociedade sexista. A Nora foi a boneca do seu pai e mais tarde, a boneca do seu marido, e as bonecas da senhora Helmer acabaram por ser os seus próprios filhos. 

Uma Casa de bonecas, acaba por ser uma reflexão não só sobre a problemática da desigualdade de género, mas também sobre relações humanas

Analisando as obras deste artigo, podemos afirmar que a desigualdade de género é um tema constante na literatura e que personagens como Elizabeth Bennett, Jo March e Noora Helmer servem de inspiração para todas/os aqueles que defendem um mundo livre de conceções estereotipadas das mulheres no casamento, no seu local de trabalho e acima de na sua forma de ser.


Foto de capa ©️Ichad Windhiagiri no Pexels

Conteúdo produzido por Diogo Zambujo, Joana Condado, Matilde Shaw, Miguel Almeida e Martim Cardoso no âmbito da disciplina de Comunicação Digital da licenciatura em Comunicação Social e Cultural.