Jovens Empreendedores: Desafios e Motivações

on

Empreendedorismo jovem é uma tendência atual.  As implicações para os recém empreendedores são várias, destacando-se a divulgação da marca enquanto ponto chave para o sucesso do negócio. Para compreender esta realidade, conheça agora as histórias dos empreendedores Pedro Bello e o Martim Abecasis.


Peças de porcelana de várias cores, seguradas por um rapaz que evidencia o logotipo da marca.
Pedro Bello é um dos empreendedores jovens que decidiu arriscar e criar a sua própria marca. Esta, de nome “ho chi mine”, encontra-se especificamente direcionada para a exclusividade de porcelanas feitas à mão.                         © ho chi mine

Do francês entrepreneur, empreendedor é alguém que “tem a iniciativa de começar novos projetos, mesmo enfrentando obstáculos ou dificuldades” (in Infopédia – Dicionários Online Porto Editora)

Em Portugal, 20,8% dos jovens com menos de 25 anos é desempregado (segundo a PORDATA – Base de Dados Portugal Contemporâneo). Assim, uma alternativa bastante considerada acaba por ser o lançamento de um negócio próprio. Não apenas é uma forma de introdução ao mercado de trabalho, mas também de dar asas à imaginação, e de utilizar e transformar hobbies e interesses num negócio.

Para além da necessidade, o empreendedorismo pode surgir como resposta a um desejo profundo dos jovens em criarem algo seu, com os seus valores e cunho pessoal. Um empreendedor tem de:

  • ser criativo;
  • ter uma rápida capacidade para resolver problemas;
  • ter uma confiança enorme no que está a criar;
  • saber realmente o que quer com o seu negócio;
  • saber ouvir “não”s;
  • ter iniciativa;
  • uma forte consciência do risco que é o lançamento no mundo dos negócios das start-ups.

Mas quais são as motivações, as necessidades e preocupações dos jovens? É o que nos vêm contar Pedro Bello (27 anos) – co-founder da empresa ho chi mine, uma recente marca de porcelanas feitas à mão –  e Martim Abecasis (21 anos) – co-founder da marca ABACA-X, uma recente marca de calções de banho para rapazes. Um sempre sonhou em ter um negócio seu, o outro nem por isso. Conheça aqui os detalhes das suas histórias.

Pedro Bello

“A ideia de criar uma marca já vem de há muito tempo e foram muitas as ideias que me passaram pela cabeça – desde vender comida à porta de um estádio de futebol a comprar diversos produtos para revenda. O meu background em gestão sempre me levou a querer ter um negócio meu, mas acredito que o empreendedorismo está dentro de cada pessoa.” Pedro Bello, da ho chi mine.

Martim Abecasis

“Na verdade nunca tinha pensado nessa ideia [de criar um negócio próprio] até há um ano e meio, em que fui confrontado com a oportunidade de criar um negócio pelo meu atual sócio, e decidi que seria uma ótima experiência para mim, tanto a nível curricular como a nível de expansão de conhecimentos que me possam ser úteis para o futuro.”  Martim Abecasis, da ABACA-X.

O valor acrescentado das ideias

Quisemos ainda perceber de onde surgiram estas ideias tão distintas – Porcelanas e calções de banho.

Pedro Bello

“A ideia começou numa viagem ao Vietnam onde eu e a minha co-founder conhecemos uma produtora de cerâmica artesanal (todos os produtos feitos à mão). A senhora mostrou-nos alguns dos produtos que fazia na sua fábrica familiar e nós gostamos imenso da ideia. A minha co-founder, que tem um background de design, adorou os produtos e o conceito do que a senhora produzia. Comecei logo a magicar e a pensar se haveria mercado para estes produtos na Europa. Ficámos em contacto com a produtora e depois de alguns meses de estudo de mercado, análise de concorrência, análise de preços e de preparação de um business plan, decidimos avançar. Lançámos a marca e criámos a nossa primeira coleção.” Pedro Bello, da ho chi mine.

“Comecei logo a magicar e a pensar se haveria mercado para estes produtos na Europa.” Pedro Bello, da ho chi mine.

Martim Abecasis

“Ambos concordámos que seria um dos melhores caminhos a seguir, tendo em conta principalmente a nossa condição de estudantes, ou seja sem qualquer tipo de remuneração mensal. Nisto, o investimento inicial teria que ser adequado à nossa capacidade financeira. Outros aspetos que nos levaram a este sector de negócio foi o interesse pelo mesmo, e também vermos uma oportunidade de explorar um mercado que em Portugal é tido praticamente como um monopólio.” Martim Abecasis, da ABACA-X.

“Oportunidade de explorar um mercado que em Portugal é tido praticamente como um monopólio.” Martim Abecasis, da ABACA-X.

O que marca a diferença

Observámos em Pedro e Martim um grande sentimento de diferenciação. Ambos querem trazer valor acrescentado num setor em especial, para um público em especial.

Ao fundo, o mar, colinas e por cima a ponte 25 de abril. Três rapazes de costas com calções de banho de cores diferentes.
Martim Abecasis, um jovem empreendedor, criou a sua marca de calções de banho masculinos. “ABACA-X” foi o nome que lhe deu, tendo diversos modelos para diversas faixas etárias. © ABACA-X

Pedro Bello

“Os nossos produtos são únicos, feitos à mão. Não há duas peças iguais. Diferenciam-se do resto das cerâmicas feitas à mão pelo facto de serem mate por fora e vidradas por dentro, pela sua forma irregular e também pelo seu peso, que é bastante menor do que as outras cerâmicas feitas à mão. Em relação à marca, todas as marcas são diferentes umas das outras, pela sua história e pelos valores que representam. O objetivo da ho chi mine é proporcionar, a qualquer pessoa, pratos, canecas, copos, etc., com um designer look a preços acessíveis. São produtos do dia a dia, para utilizar em qualquer ocasião, mas que fogem à banalidade de um serviço tradicional e que já ninguém liga ou repara. De forma acessível, trazemos alegria a cada refeição e estamos orgulhosos de devagarinho começar a levar um bocadinho da ho chi mine para casas em todos os cantos do mundo.” Pedro Bello, da ho chi mine.

“De forma acessível, trazemos alegria a cada refeição e estamos orgulhosos de devagarinho começar a levar um bocadinho da ho chi mine para casas em todos os cantos do mundo.” Pedro Bello, da ho chi mine.

Martim Abecasis

“Somos orgulhosamente uma marca 100% portuguesa. Como tal, todos os recursos (mão-de-obra, materiais, etc.) que utilizámos até hoje contribuíram para o dinamismo do mercado em Portugal. Ao nível do design e tecido utilizado é, na nossa opinião, um valor de diferenciação de qualquer outra marca concorrente da ABACA-X.” Martim Abecasis, da ABACA-X.

“Somos orgulhosamente uma marca 100% portuguesa.” Martim Abecasis, da ABACA-X.

A divulgação da marca

Do ponto de vista do consumidor, é difícil perceber o mundo da divulgação e publicidade de uma marca. Chega até nós aquilo que chega, e poucas vezes nos interrogamos sobre isto. Há um grande esforço conhecido por parte das marcas para que as mesmas cheguem a todo o seu público alvo, para que possam potênciar novos e possíveis consumidores, para que estas também possam perceber as necessidades do mercado e adaptarem-se da melhor maneira.

Pedro Bello

“O processo de lançamento de uma marca passa sempre pela divulgação, pelos núcleos que rodeiam os fundadores (família, amigos próximos, etc.). Para nós, a fase a seguir passou pelas redes sociais, a fim de chegarmos aos amigos mais afastados e amigos de amigos. O desafio agora passa por chegar a novos potenciais consumidores, pelo que estamos a experimentar diferentes estratégias: lançamento de um website, marketing digital ativo através das redes sociais e criação de showrooms em diferentes locais de interesse.” Pedro Bello, da ho chi mine.

Martim Abecasis

“A divulgação tem sido de facto a maior dificuldade da ABACA-X, por uma das razões referidas acima, a pouca margem de investimento. Isto coloca algumas barreiras à nossa capacidade de chegar a todas as pessoas a quem nos queremos dirigir, e que consideramos que pudessem estar interessados na nossa marca e nos nossos produtos.” Martim Abecasis, da ABACA-X.

“A divulgação tem sido de facto a maior dificuldade da ABACA-X.” Martim Abecasis, da ABACA-X.

Principal obstáculo

De facto, o custo de cada operação de divulgação de uma marca é sempre elevado. Não se trata de um processo simples e verificamos aqui que tem sido o principal obstáculo de ho chi mine e ABACA-X. Afirmam a importância de perceberem a quem quer chegar cada uma destas marcas.

Pedro Bello

“Os nossos produtos são apelativos a diferentes faixas etárias. Para ser totalmente honesto, inicialmente o nosso core target eram casais (recém-casados ou que tenham ido agora morar juntos), no entanto rapidamente percebemos que muitas vezes esta faixa etária ainda quer seguir bastante as tradições normais de ter um serviço completo para usar todos os dias, e depois outro serviço para utilizar em ocasiões especiais. Fomo-nos apercebendo que as gerações acima (35-60 anos) querem mudanças em suas casas – estão fartas do serviço que utilizam (provavelmente é o mesmo há 20 anos), das canecas todas diferentes que compraram em diferentes viagens ou ocasiões, dos pratos meio lascados – e por isso querem trazer algo de novo para as suas casas, algo de novo para receber amigos, algo de novo para as suas refeições. Toques pequenos que fazem muita diferença.” Pedro Bello, da ho chi mine.

“Toques pequenos que fazem muita diferença.” Pedro Bello, da ho chi mine.

Martim Abecasis

“Consideramos que, apesar do problema acima referido [pouca margem de investimento], temos conseguido chegar às pessoas do sexo masculino na faixa etária 15-35 anos.” Martim Abecasis, da ABACA-X.

Redes sociais

Sabemos, nos dias de hoje, a grande importância que têm as redes sociais na divulgação de qualquer tipo de conteúdo. Em relação às marcas, estar presente nas redes sociais ajuda a estabelecer o nível de experiência da mesma, o que faz também a marca crescer por se dar a conhecer de uma maneira próxima e quase pessoal. A verdade é que a empresa torna-se mais apelativa para os seus clientes, e até para os atuais e possíveis empregados, se a marca for relevante. Assim, as redes sociais ajudam na construção de uma boa reputação para os empreendedores. (Kadam, A., & Ayarekar, S. (2014)). Mas será que é suficiente?

Pedro Bello

“No nosso negócio, as redes sociais têm muita importância a fim de dar a conhecer os nossos produtos, os diferentes conjuntos e a sua utilidade. Queremos mostrar aos clientes diferentes combinações de cores e produtos para que deem asas à sua imaginação. Ao mesmo tempo sabemos que a decisão de compra de cerâmicas é bastante influenciada pelo toque, pela textura, pelo peso – o que nem sempre é fácil de transmitir nas redes sociais. Por isso utilizamos métodos de venda direta, como mercados e showrooms, onde procuramos dar a conhecer todos estes elementos aos nossos potenciais compradores.” Pedro Bello, da ho chi mine.

“No nosso negócio, as redes sociais têm muita importância a fim de dar a conhecer os nossos produtos, os diferentes conjuntos e a sua utilidade.” Pedro Bello, da ho chi mine.

Martim Abecasis

“É um facto que depende da escala a que se pretende trabalhar. Inicialmente as redes sociais são um método a explorar, sendo acessível em todos os aspetos e adequado à era da tecnologia em que vivemos. No entanto, penso que numa perspetiva de evolução há que trabalhar outras zonas de marketing que possam ter mais impacto e que permitam uma maior evolução da marca.” Martim Abecasis, da ABACA-X.

“Inicialmente as redes sociais são um método a explorar, sendo acessível em todos os aspetos e adequado à era da tecnologia em que vivemos.” Martim Abecasis, da ABACA-X.

Estratégias de divulgação

A exigência da divulgação da marca é um problema fundamental com que estes jovens se deparam.

Nas cerâmicas é difícil dar a conhecer de verdade o produto em si por ser (como disse Pedro Bello) muito uma questão de toque, de experiência concreta com o produto em questão, de ser difícil descobrir a maneira mais eficiente de divulgar estes produtos…

Pedro Bello

“Estamos a começar. A marca está a ser comercializada há pouco mais de 6 meses, pelo que estamos ainda a perceber qual ao nosso target audience e os melhores canais de comunicação. Por isso estamos a experimentar diferentes estratégias de divulgação, que nos permitam chegar a mais pessoas em diferentes faixas etárias. A utilização de um website permite-nos chegar a uma faixa etária mais jovem, que ao ver os produtos no instagram procura saber mais e comprar on-line. Ao mesmo tempo, a venda direta no mercado e os showrooms, permitem-nos dar a conhecer a marca e os produtos a pessoas pouco ativas no mundo digital e às quais provavelmente nunca chegaríamos.” Pedro Bello, da ho chi mine.

“Estamos a experimentar diferentes estratégias de divulgação, que nos permitam chegar a mais pessoas em diferentes faixas etárias.” Pedro Bello, da ho chi mine.

Nos fatos de banho, a escolha de modelos masculinos tem um grande peso na decisão de compra do fato de banho, acreditamos, e por isso há também um grande peso na escolha dos mesmos e na sua divulgação. Neste tipo de mercado, os consumidores estão de facto atentos a quem utiliza o produto em causa, a quem representa a marca. Desta maneira são automaticamente atribuídos valores a determinadas marcas, por parte dos consumidores, que criam um desejo de pertença e, por isso, um desejo de compra do produto. Desta maneira, é uma mais valia as marcas apostarem em modelos que incentivem à compra.

Martim Abecasis

“Pensámos nisso [critério de escolha dos modelos masculinos] como uma “mini” estratégia de mercado, utilizando modelos que são nossos conhecidos e conhecidos do nosso target, abrangendo uma área que nos interessava.” Martim Abecasis, da ABACA-X.


A escolha de como publicitar determinada marca não é fácil. Há sempre fatores que escapam! Vamos com ideias pré-concebidas que podem acabar por não funcionar como idealizámos. Vamos dando conta que as redes sociais não são suficientes, apesar de muitas vezes acreditarmos que sim… Trata-se de uma difícil gestão de expetativas e de perceber o mundo real. Não é tarefa para qualquer um – o marketing é um desafio grande nos dias que correm, principalmente com a quantidade de informação que recebemos por segundo, todos os dias das nossas vidas.

No entanto, enquanto houver empreendedores como o Pedro e o Martim que nos façam ficar de cabeça erguida, expectantes e vidrados em determinadas marcas de maneira saudável e lucrativa para os próprios, mantemos a esperança nos nossos pequenos negócios que nos ocorrem todos os dias, mas que muitas vezes são no segundo a seguir destruídos por dificuldades como estas. Seguimos e acreditamos que “o empreendedorismo está dentro de cada pessoa” (Pedro Bello em entrevista).


Conteúdo produzido por: Ângela Fonseca, Mariana Araújo, Mariana Lobo Vaz, Mariana Pais de Almeida e Tomás Afonso,  no âmbito da UC de Comunicação Digital da licenciatura em Comunicação Social e Cultural.