OrangeBoom: nova aposta no empreendorismo jovem

O mundo do empreendorismo é cada vez mais atractivo aos jovens. E são cada vez mais aqueles  que abraçam os desafios, apostam na criatividade e criam os seus próprios negócios.

Estatísticas realizadas pela Universidade Nova de Lisboa, indicam que nunca houve em Portugal tantos jovens empreendedores como agora, uma geração que parece decidida a inverter o rumo do país. A juventude portuguesa tem cada vez mais vontade de aprender, construir e criar a sua independência em relação aos seus próprios projectos, não se conformando com empregos desinteressantes e monótonos.

CC by OrangeBoom

OrangeBoom é uma empresa de consultoria fundada em 2016 por Filipa Larangeira, uma jovem empreendedora de 36 anos, ex-aluna de Direito da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa. É resultado de um trabalho constante de quase uma década onde a sua vida profissional foi dando bastante voltas: passou pela Unilever, pela Nokia e acabou por ir dar às startups onde esteve na Vision-Box, na Miniclip e por fim na Uniplaces. Filipa vê a componente humana de uma organização como o “ingrediente secreto” para o sucesso e por isso, usa a sua experiência, intuição e curiosidade para ajudar as pessoas e os seus negócios. 

Filipa dá-nos o seu testemunho e conta-nos como em apenas um ano, criou a sua empresa, querendo marcar pela diferença e conseguindo entrar no mundo empresarial com um projecto próprio e com conceitos inovadores.

CC by Madalena Tomás

Perguntámos à Filipa como é que surgiu este projecto: “Quando eu resolvi sair da Uniplaces, a terceira e última startup em que fui Directora de Recursos Humanos, percebi que queria começar o meu próprio negócio. A primeira coisa que me apercebi quando saí foi que tinha alguma experiência em Recursos Humanos, Gestão e em Startups e que gostava de trabalhar por conta própria na área de Consultoria. Montei o meu negócio, muito direccionado para áreas em que tinha maior experiência, ajudar a criar empresas mais humanas e mais atractivas onde as pessoas se sentissem bem a trabalhar e por outro lado, ajudar as pessoas a encontrar um trabalho onde se sentissem realizadas e felizes. E assim surgiu a OrangeBoom, a minha empresa de Consultoria e de aconselhamento de carreira.” Foi assim que surgiu uma nova plataforma, a Morphis, o seu segundo projecto: “Á medida que fui fazendo isso com os meus clientes, mais na área tecnológica, apercebi-me que os meus clientes me pedem muito para fazer recrutamento. Como este processo é bastante moroso, lembrei-me de criar uma plataforma para fazer o recrutamento mais facilmente.” Após identificar alguns problemas na sociedade “que afectam o bem-estar das pessoas e o bem-estar social principalmente na área de Educação.” Nasce assim o seu terceiro projecto, sem fins lucrativos, a Newmanity “uma organização que desenvolve um modelo social que vai buscar parceiros para construir estruturas físicas que reflitam estes novos sistemas que nós idealizamos. Daqui vai nascer uma nova escola e uma nova academia.” Filipa está, deste modo, a desenvolver três projectos interligados, em simultâneo. 

Filipa explicou-nos que os valores da sua empresa são “muito pessoas e transversais às pessoas no geral; são valores de amor próprio porque não é possível fazermos nada pelo mundo se não gostarmos de nós próprios e para isso, eu trabalho com o indivíduo primeiro e depois trabalho no que é que esse indivíduo pode fazer para ter um trabalho com mais propósito ou para empreender. Tudo começa com a pessoa. Ninguém nos ensina a ter auto-estima e a verdade é que a maior parte dos problemas nas organizações começam pelo facto das pessoas não gostarem de si próprias: uma pessoa que gosta de si própria, colabora, não compete. Por isso outros valores serão o da colaboração, o da compaixão e o da criatividade, ou seja, pensar mais longe, questionar o porquê de as coisas não serem assim. Como dizia o Saint Exupery: O essencial é invisível aos olhos. E por isso tens de sonhar com coisas que não existem. Em todas as organizações que estou a ajudar a criar, é voltar muito ao básico; ver o que realmente faz sentido com o profundo respeito pelas características do ser humano.”

Tendo tirado um curso completamente diferente da actividade que exerce actualmente, Filipa descreve quais foram as principais aprendizagens que tirou destas diferentes fases da sua vida: “Quando passamos por determinadas circunstâncias, ás vezes não nos apercebemos porque estamos a fazer ou coisas que não gostamos ou coisas que nem percebemos como lá chegamos. Mas ao fim de algum tempo tudo começa a fazer sentido, porque tudo isto é um puzzle.” Acrescenta ainda que acabou por tirar o curso de Direito apenas “para agradar ao meu pai e não porque queria, hoje, faz-me muito mais sentido tê-lo tirado. Deu-me valências que necessito hoje pois para construir um negócio é importante ter noções jurídicas. Posteriormente passei por Marketing, passei por Vendas e tudo isto me deu outra sensibilidade para compreender várias áreas de negócio que agora como empreendedora me dão imenso jeito porque é como se eu tivesse tocado em todas as dimensões de uma organização.” Filipa considera que “numa startup é bastante importante ser multi-facetado e o mundo pede isso”, afirmando que após todas estas etapas “é curioso porque tudo agora faz sentido na minha vida.”

Durante esta jornada, Filipa afirma ter passado por vários obstáculos, tanto internos como externos. “O factor interno relaciona-se com mundo das startups, um tipo de empreendorismo sempre em mudança e estás sempre a fazer qualquer coisa.” Considera que o seu primeiro obstáculo interno “foi diminuir o nível de exigência comigo própria e equilibrar o tempo em que dedico à minha vida pessoal e o tempo que dedico a trabalhar. É necessário as coisas acontecerem a seu tempo.” O segundo obstáculo foi “acreditar em mim própria, que é todo um trabalho de uma vida. Nós não somos ensinados a acreditar que somos incríveis, mas somos.” Relativamente aos factores externos, Filipa refere que “os custos, a burocracia e a falta de apoios é um obstáculo enorme aos empreendedores.”

Filipa fala-nos das suas perspectivas para o futuro, onde procura não planear demasiado, “mas sim a estruturar o que vou fazendo e tendo algumas ideias dos caminhos que quero seguir. Quero ter um negócio que me faça feliz e que este tenha impacto social e ambiental. Com o meu negócio quero melhorar a vida dos outros.” Filipa pretende continuar a desenvolver os seus projectos nos próximos três anos, querendo “ter uma vida mais calma, construindo uma equipa que continue a OrangeBoom e que dê continuidade aos meus projectos para que eu tenha mais tempo para me dedicar a outras coisas.”

Por fim, a jovem empreendedora aconselha a todos os jovens que querem vergar neste meio a “desmistificar quem é o empreendedor, que é aquele que consegue colaborar para um objectivo comum; definir o verdadeiro objectivo do empreendorismo, que nunca pode ser o lucro. Como é que eu vou conseguir ter dinheiro mas como é que em simultâneo vou ajudar este mundo a ser melhor?, e, por último, a construção de ideias”, pois, “não há nada como pores o coração naquilo que fazes, só assim é que as coisas vão para a frente.”


Conteúdo produzido por: Madalena Pinto, Madalena Tomás, Renata Almeida e Rita Martins no âmbito da unidade curricular de Comunicação Digital, da licenciatura Comunicação Social e Cultural.