Regueirão dos Anjos 70. Foi onde decorreu, entre os dias 9 e 10 de novembro, o Veganário Fest. O festival, que se realiza desde 2008, é promovido pela Associação Veganário e tem como objetivo incentivar o estilo de vida vegano. Com entrada livre, cerca de 4 000 visitantes aproveitaram dois dias de concertos, palestras, workshops e ainda actividades que vão desde concursos de doçaria a sessões de Yoga. Saiba mais sobre a edição deste ano do “maior festival vegano do país”.
O Festival – Dois dias para quebrar preconceitos
Durante o fim-de-sema de 9 e 10 de novembro, entrar no espaço Regueirão dos Anjos 70, foi o equivalente a entrar num mundo à parte. Entre refeições “orgânicas” e “raw” – por exemplo – , as muitas palestras, workshops e concertos, que aconteceram ao longo dos dois dias em que se realizou o Veganário Fest, promoveram um estilo de vida que, embora comece a ganhar expressão, ainda é estranho a muitos de nós. Entre muitas outras coisas, este festival quer dar a conhecer este estilo de vida e quebrar mitos e preconceitos
Nas cerca de 60 bancas montadas a variedade foi mais que muita. Desde produtos alimentares, até produtos de higiene e cosmética, arte e decoração, vestuário e calçado, ofertas que fogem ao comum foi coisa que não faltou. Dos “enchidos” sem carne animal, até às pipocas com Spirualina, todos os produtos tinham de cumprir dois requisitos: ser ecológicos e veganos.
O mote para a edição deste ano do Veganário Fest foi a família e o papel que esta tem no desenvolvimento de comportamentos sustentáveis e na adoção e proliferação do Veganismo. Foi este o tema que guiou uma boa parte das palestaras a que os visitantes puderam assistir.
A organização diz, no seu site oficial, que “uma família vegana se depara com vários desafios no seu dia-a-dia, como gerar e criar um bébé vegano, como encontrar estabelecimentos e pediatras que aceitem e respeitem a opção do veganismo, como encaixar-se em eventos sociais e familiares” a julgar pelo ambiente acolhedor e sociável do festival, ninguém diria que assim é.
Numa das muitas bancas que é possível encontrar, salta à vista a Batata Doce de Odmira. Lá foi possível encontrar três variedades desta batata: laranja, roxa e amarela. Todas de produção biológica. Neste festival, em que se faz também a defesa do consumo local, Ana Costa, produtora de Batata Doce em Odemira, no Alentejo, conta que apesar de “alguns desafios” que o cultivo biológico traz consigo “o gosto pelo estilo de vida no campo” acaba por compensar. Segundo diz Ana Costa “dá saúde e gratificação”.
Esta produtora local conta que, hoje em dia, depois de alguns anos a combinar outra profissão com o cultivo de batata doce, já se dedica exclusivamente à agricultura porque, como diz, “vai dando para pagar as contas”.
Uma das coisas que, embora não fosse o foco principal do Veganário Fest, por lá se podia achar foi defesa dos direitos dos animais. No site oficial da Associação Veganário, associação organizadora do festival, podemos ler:
“Acreditamos que todos os animais têm direito à liberdade, paz e amor! O veganismo é uma solução eficaz para a libertação animal”.
Puderam encontrar-se bandeiras com mensagens de luta pelo direito dos animais em muitas das bancas, a entrada a cães era permitida e muitos do produtos alimentares levavam como selo o facto de serem alternativas ao consumo de carne animal e derivados.
Outro dos temas em foco foi, como não poderia deixar de ser, a sustentabilidade, a bio-diversidade e as alterações climáticas. Mais uma vez, no site da Associação Veganário pode ler-se que um dos maiores entraves ao equilíbrio ambiental é a produção de carne animal.
“A agro-pecuária é a principal causa humana responsável pela desflorestação, diminuição da bio-diversidade, emissão de gases com efeito de estufa, poluição das águas e esgotamento dos solos.”
Em muitas das palestras e debates que ocorreram ao longo de todo o festival, foram apresentados modelos alternativos de estilo de vida. Nem todos eles defendiam o veganismo apenas, houve espaço para as várias formas de vegetarianismo.
Tipos de vegetarianismo
O que é que a frase “o quadrado da hipotenusa é igual à soma do quadrado dos catetos” e o vegetarianismo têm em comum? À primeira vista, pouco, ou mesmo nada. Até há pouco tempo ambos tinham o mesmo nome. O primeiro era o teorema de Pitágoras e o segundo era a dieta de Pitágoras.
Este filósofo grego é por muitos considerado o pai do vegetarianismo. Apesar disto, estudos antropológicos provam que os seres humanos tiveram dietas vegetarianas muito antes de Pitágoras. As razões que o levaram, e que hoje levam os seus seguidores, a adotar tal modo de vida, prende-se com questões que vão da ética à crença religiosa.
Hoje, podem distinguir-se vários tipos de vegetarianismo. De alguma maneira, poder-se-ia organizá-los por ordem de restrições – do mais flexível, o flexitarian até ao mais restrito, o vegan. Entre eles existem muitos outros. O flexitarian tem uma dieta quase completamente à base de produtos vegetais, com o ocasional aparecimento de carne no menu. Poder-se-ia então argumentar, que no sentido restrito da palavra, não é uma dieta vegetariana.
Também se incluem neste semi-vegetarianismo as pessoas que só comem peixe, ou que só comem peixe e carnes vermelhas. Quando se entra na “verdadeira” arena do vegetarianismo têm-se os ovo-lacto-vegetarianos. Esta dieta nega o consumo de carne e peixe. Permite, porém, o consumo de produtos como ovos, leite e os seus derivados do leite (como queijo ou iogurte).
Os ovo-vegetarianos e os lacto-vegetarianos, têm um regime de não consumo de produtos animais, com exceção de ovos, e leite e os seus derivados, respetivamente. Por fim, existe a dieta vegan. Nesta dieta não entra qualquer tipo de produto animal, ou seus derivados. Muitas das pessoas que adotam esta dieta evitam também utilizar produtos animais, como couro, seda ou lã.
No Veganário Fest, ao longo de um fim-de-semana, pôde saber-se disto e muito mais. O festival dedicou-se a disseminar um estilo de vida sem o impor aos seus visitantes. Alguns dos comentários típicos que se fazem aos veganos até estiveram dispostos numa parede em formato de meme, como forma de resposta bem-humorada a comentários como: “se temos caninos é porque devemos comer carne”. Com música, comida e muita abertura terminou mais uma edição deste festival vegano que se diz “o maior do país”.
Conteúdo produzido por Ana Margarida Andrada, Beatriz Carvalho, Érica Monteiro, Filipa Neto, Vicente Figueira, no âmbito da disciplina de Comunicação Digital da licenciatura em Comunicação Social e Cultural.