YouTube e gap year. Dois conceitos distintos. Tomás Silva é português, tem 18 anos, um canal no YouTube que conta com mais de 140 mil subscritores e, no total, mais de 6 milhões de visualizações. Depois de fazer as contas e ponderar sobre os seus objetivos de vida, decidiu fazer um gap year. À conversa com Tomás, o Digital Hub quis saber quais foram as suas maiores dificuldades ao tomar esta decisão, que planos tem para o futuro e que conselhos daria a alguém que queira fazer o mesmo. Curioso/a para saber mais sobre esta equação?
YouTube em Portugal
“Olá, pessoal! Sejam bem-vindos a mais um vídeo!”. Não há como como começar de outra forma um artigo que trate da segunda rede social mais usada no mundo. Em alguns casos, o “pessoal” muda para “todos”, “malta”, “maltinha” ou qualquer outra expressão que os YouTubers julguem mais adequada aos seus seguidores, que contribuem para a crescente popularização dessa plataforma.
No dia 7 de maio de 2008 surgiu a versão portuguesa deste website. Desde então já foi uma rampa de lançamento para artistas do mundo da música, como é o caso de Mia Rose e Ana Free, e revelou-se impactante para a vida de muitas pessoas, que criaram os seus próprios canais e começaram a partilhar conteúdos diversificados. Exemplo dessa diversidade é a lista publicada pelo Observador dos 10 vídeos portugueses mais vistos em 2017. Fica a conhecer o top 5:
› Como Irritar Uma Namorada (D4rkFrame)
› “Amar Pelos Dois“, Salvador Sobral (Eurovisão 2017)
› “A Vida Toda” (Carolina Deslandes)
› “Amar Pelos Dois“, Salvador Sobral (Festival da Canção 2017)
› “Estou Gordito – Paródia Despacito” (SirKazzio)
De dia para dia, surgem novos canais de YouTube, uns mais virais do que outros, contudo, uma coisa é certa, ser YouTuber tornou-se numa ocupação ambicionada por muitas crianças e jovens. Segundo um artigo publicado pelo site Sapo 24, ser YouTuber “trata-se de uma profissão com remunerações variáveis, que dependem do número de visualizações dos vídeos, às quais podem acrescer extras, decorrentes da publicidade feita [pelos mesmos]”. Numa entrevista ao Observador, Miguel Raposo, “apelidado de agente dos YouTubers”, declara:
“Muita gente consegue ganhar um dinheiro bastante interessante. (…) Mas isto não é assim tão simples, depende das alturas do ano. No Natal é muito mais fácil fazer dinheiro porque há muito mais oferta. Pode-se ter um milhão de visualizações num mês, mas se calhar só 50% é que teve publicidade.”.
Miguel Raposo
Os vídeos sobre o assunto multiplicam-se pela internet fora. Quanto ganham os YouTubers? Não temos uma resposta para ti. É possível viver do YouTube? É possível seguires os teus sonhos, mesmo que todos os outros te digam que não? Espera até conheceres o Tomás Silva, ele tem algo para te dizer.
Tomás Silva: um YouTuber do século XXI
Certamente já ouviste falar de pessoas que desistem das suas profissões porque não se sentem realizadas ou não são felizes. Talvez até tu já tenhas duvidado das tuas decisões. Que curso deves tirar, que disciplinas deves escolher, que roupa deves vestir para impressionar o/a crush? Sim, há escolhas mais fáceis do que outras. A questão principal é: já alguma vez arriscaste tomar uma decisão que vai contra as expetativas de todos os que te rodeiam? Foi isso que Tomás Silva fez ao decidir que, depois de terminar o ensino secundário, não queria ir para a universidade. O criador de conteúdos, como gosta de ser chamado, afirma: “muita gente ainda pensa que o YouTube ou ‘ser YouTuber‘ é uma profissão fácil e que, em muitos casos, nem devia ser considerada uma profissão. Mas é muito mais do que aquilo que aparece nos nossos canais e redes sociais. Existe todo um processo”.
Quando questionado sobre como tomou consciência que este era o caminho que queria seguir, Tomás declara:“a partir do momento que comecei a perceber que a minha influência tinha um impacto positivo na comunidade que me segue e que as marcas se interessam cada vez mais em trabalhar comigo, decidi tornar o YouTube a minha principal fonte de rendimento e trabalhar a full-time nisso, pois não só é aquilo que mais gosto de fazer como consigo ter liberdade financeira para ser um adulto independente”.
Tomás Silva decidiu partilhar a sua decisão de sair da universidade através do seu canal do YouTube. Vídeo © Tomás Silva
Num vídeo recentemente publicado, e que já conta com quase 80 mil visualizações, o jovem fala abertamente sobre uma das maiores, e mais importantes, decisões que tomou ao decidir fazer um gap year para se dedicar inteiramente à criação de conteúdos para o seu canal. Tendo consciência do impacto das suas palavras nos seus seguidores, que podem estar a passar por uma fase semelhante, Tomás não hesita:
“Depende muito de pessoa para pessoa e de outros fatores agregados a isso. Eu, por exemplo, sempre tive a vontade de fazer um gap year e sempre fui aberto a essa ideia e a oportunidades relacionadas com ela. Só que em muitos casos, há jovens cujos pais não deixam ter essa liberdade de pensamento e não acreditam no conceito. Acho que acima de tudo qualquer jovem deve encarar o gap year como uma opção, um “Plano B” e um ano que estão a ganhar, nunca a perder”.
Tomás Silva
E no que diz respeito aos outros e àquilo que esperam de cada um de nós? Sabes o que Tomás tem a dizer sobre isso? “Sinto que a sociedade tem curiosidade e fica reticente ao conceito. Mas não sinto uma pressão, seja da sociedade ou de mim próprio. Sinto que tenho que dar provas a mim mesmo de que o dia de amanhã será sempre melhor que o outro”, e acrescenta, “mas se não acontecer amanhã, acontece depois. O mais importante é levar a vida com calma, um passo de cada vez, e nunca perder o foco”.
Gap year e os projetos para o futuro
O jovem de 18 anos terminou o 12º ano em 2018, no mesmo ano candidatou-se ao ensino superior e inscreveu-se no curso de “Marketing e Publicidade”, que frequentou durante um mês, antes de decidir, definitivamente, que aquele não era o percurso que queria fazer: “várias pessoas foram importantes na tomada de decisão em sair da faculdade. Mas sem dúvida que a mais importante foi, ironicamente, eu próprio. Ouvi opiniões de muitos lados, mas sempre senti que era eu que tinha de dar a última palavra, e deixei que a minha cabeça falasse por mim”.
Sobre o que fica para trás, apenas por enquanto, Tomás mostra-se bastante convicto: “não descarto, de todo, a universidade. Adorava aprofundar conhecimentos nas áreas que mais gosto. (…) Para já, quero acima de tudo continuar a minha carreira como criador de conteúdo e mudar o panorama que se vê, atualmente, em Portugal. Depois, só mesmo o futuro o dirá”.
O caso de Tomás Silva é emblemático relativamente à autenticidade e resiliência necessárias para se destacar como YouTuber. Há dois anos, quando criou o seu canal no YouTube, também ele não sabia o que o esperava no futuro: “acho que é importante errarmos para aprendermos depois”. O segredo, se é que há, de facto, um segredo, é seres o/a melhor naquilo que te faz mais feliz. O sucesso surge depois de muito trabalho.
Não sabes se tomaste a decisão certa? Queres saber o que significa seguir o melhor caminho? Então os conselhos do Tomás são dirigidos a ti. A ti ou àquele teu amigo que precisa de ajuda, desabafa contigo e te deixa sem saber o que dizer.
“Acima de tudo, ter noção do porquê e do que quer ou não fazer. Não aconselho a alguém fazer um gap year sem estar ciente do passo que está a tomar porque é, sem sombra de dúvidas, um passo grande e que nos faz questionar diariamente se a decisão que tomámos foi a correta. Por isso, sem dúvida que é importante termos maturidade para o fazer e percebermos que esse ano é para investir em nós e em projetos que nos completem. Nunca para passar fechado em casa, a ver séries no Netflix e a comer um Ben & Jerry’s, que é um guilty pleasure bastante aliciante”.
Tomás Silva
Se também tens um sonho, arrisca naquilo em que acreditas. Foi isso que fez o Tomás: “se não tivesse criado um canal no YouTube não tinha metade do que tenho neste momento. (…) Seja pelas oportunidades que já tive, ou pela liberdade que tenho em poder ser um mero jovem de 18 anos, que já tem independência financeira e maturidade para assumir as suas escolhas. De todas as coisas que o YouTube me deu, essa foi a mais importante e aquela que me marcou e vai marcar para sempre”.
Por fim, o jovem criador de conteúdos confidencia: “tenho vários projetos que irão acontecer em 2019, mas nada que possa revelar”, e termina dizendo: “é um prazer gigante saber que estou a influenciar pessoas da maneira que considero ser a mais acertada e que estou a marcar uma geração”.
Fatores como a dedicação e o trabalho têm sempre uma recompensa. Se ficaste inspirado por este testemunho, cria o teu próprio canal. És tu que escolhes o conteúdo da tua vida, do que estás à espera para seres feliz com as tuas escolhas?
Fotografias cedidas por Tomás Silva (Instagram)
Vídeo cedido por Tomás Silva (YouTube)
Conteúdo produzido por Carolina Custódio, Maria Gomes, Núria Mateus e Sofia Rodrigues, no âmbito da disciplina de Comunicação Digital da licenciatura de Comunicação Social e Cultural.