Soul journey pela vida de Drumond

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Rui Drumond é um artista multifacetado e talentoso, conhecido do público português principalmente pelos talent shows em que participou. Vencedor da segunda edição do The Voice Portugal, participou também na Operação Triunfo, em 2003, que marcou o início da sua carreira, assim como no Festival da Canção, já por duas ocasiões. Na sequência de um concerto no Hard Rock Café, em Lisboa, conversámos com o músico, que falou sobre a sua carreira e abordou o panorama actual da música portuguesa.


Rui Drumond posa para a fotografia.
Rui Drumond leva já 14 anos de carreira, que começou com a sua participação no programa Operação Triunfo, em 2003. (Fotografia do arquivo pessoal do cantor)

Foi em contexto tipicamente rock’n’roll e numa atmosfera vibrante e acolhedora que Rui Drumond actuou, esta sexta-feira, no Hard Rock Café, em Lisboa. Num ambiente de música ao vivo, o silêncio imperava para ouvir o repertório trazido pelo talentoso cantor português. Sob a iluminação das luzes envolventes em peças transparentes de baterias, Rui Drumond interpretou os mais diversos estilos de música e encantou o público presente. Desafiado a explicar o motivo da escolha em actuar neste espaço, o cantor reforçou a universalidade e o funcionamento do mesmo. “O Hard Rock dá para tocar qualquer tipo de projecto, temos público para tudo aqui. Portugueses, estrangeiros… Dá para ser mais universal e dá para lançar um projecto sem ninguém ter de entrar e pagar, as pessoas podem entrar e simplesmente ouvir a música”.

De nome completo Rui Alberto Martins Golias Drumond de Sousa, nasceu em 1980 (completa 37 anos a 18 de Dezembro), em Torres Vedras, de onde saiu após a sua participação no programa de talentos da RTP1 Operação Triunfo, em 2003. O artista afirma que o programa foi um factor decisivo para “conhecer o meio musical, conseguir entrar nesse meio e depois fazer-me à vida, como todos os outros”. Mas foi noutro programa, da mesma estação, que obteve verdadeiramente sucesso. Onze anos depois, decidiu relançar-se de novo para a ribalta, no talent show The Voice Portugal, que acabou por vencer. Contudo, segundo o próprio, o objectivo foi completamente diferente: “A Operação Triunfo foi mais importante, em termos de aprendizagem e de evolução. No The Voice, o objectivo foi mesmo entrar nesta nova geração tecnológica. Não havia redes sociais na altura da Operação Triunfo nem nunca tive depois disso. Portanto, achei que o The Voice seria uma boa oportunidade para isso.” Aliado à vitória, acabou por ser uma experiência positiva, em que o músico afirma que ganhou “o reentrar no mundo da música e uma nova oportunidade para mostrar o trabalho, assim como estar dentro do meio das redes sociais”.

Infelizmente, nem tudo neste tipo de programas se processa como o público pensa. Actualmente, Rui Drumond ainda mantém contacto com a produção, com os outros músicos concorrentes e direção musical e com a apresentadora Catarina Furtado, uma amiga de longa data. Contudo, em relação a Anselmo Ralph, o seu mentor, assim que o programa acabou “nunca mais disse nada e desapareceu do mapa”. Apesar disso, o músico considera-o uma “pessoa simpatiquíssima”.

Rui Drumond em actuação durante uma gala do The Voice Portugal.
Consagrado vencedor da segunda edição do The Voice Portugal, Rui Drumond considera esta uma experiência positiva, em que o objectivo passava por “entrar nesta nova geração tecnológica”. (Fotografia do arquivo pessoal do cantor)

Como pontos mais altos na sua já larga carreira, o artista revela que teve vários e que escolher apenas um seria muito complicado. Sendo assim, enuncia a vitória no The Voice (“a sensação de estar lá em cima, ouvires o teu nome e dizer que foste o vencedor, claro que é um ponto alto”), o primeiro espectáculo onde tocou um original seu, em Azeitão (“ver a receptividade das pessoas foi fantástico, entra neste lote porque tem a ver com o sonho que tinha em cantar originais, ao vivo, num espectáculo normal, sem ser num bar”), e, por último, um musical sobre Frank Sinatra, um dos seus grandes ídolos e referências, em que teve a oportunidade de interpretar o papel do próprio (“no último espectáculo até chorei, adorei fazê-lo e foi pena só ter sido durante seis meses, porque não havia apoios nem patrocínios”).

O seu pai foi uma pessoa fundamental para Rui Drumond apanhar o bichinho pela música, transmitindo-lhe aquelas que são as suas maiores referências musicais: para além de Frank Sinatra, Ray Charles e Stevie Wonder também estiveram sempre muito presentes ao longo da sua vida e carreira. Mais tarde, surgiram nomes como Marvin Gaye, Al Green e Otis Redding, que também fazem parte das suas principais influências. E foi nesse contexto que Rui Drumond se apresentou no Hard Rock Café, tendo como verdadeira base o soul e o jazz.

Uma das grandes vantagens para um músico é ter uma banda em quem confia plenamente, e nisso Rui Drumond não tem razões de queixa. “Há todo um bom gosto e respeito entre eles que ajuda em tudo o que eu faço. Nós damo-nos mesmo muito bem, não somos aquela banda que discute em ensaios, não há disso. Quando alguém faz uma asneira, nós rimo-nos e até gozamos!” Aleixo Franco, o pianista, foi o primeiro a actuar com Rui Drumond logo após a participação deste na Operação Triunfo, anos a fio apenas a tecla e voz. Sobre Ricardo Dikk, o seu baixista, Rui Drumond não tem problemas em afirmar, “sem querer parecer suspeito”, que é o melhor baixista de Portugal e arredores. Já Marco Reis, o guitarrista, apelida de “fabuloso”. A história de como o baterista Rui Reis surgiu no quinteto é engraçada: “O nosso baterista, às 21h30 da noite, mandou mensagem a dizer que tinha uma gastroenterite e que não podia tocar. Nós íamos começar a actuar às 23h… Então o Dikk sugeriu um baterista, o Rui Reis, ligou para ele, o Rui Reis veio e tocou o concerto todo. Ficou e nunca mais saiu. É o maior!”, afirma o vocalista da banda.

 Elementos da banda na qual Rui Drumond é vocalista.
Da esquerda para a direita: Marco Reis, Aleixo Franco, Ricardo Dikk, Rui Drumond e Rui Reis. (Fotografia do arquivo pessoal do cantor)

Sobre a música portuguesa actual, o músico não tem dúvidas de que Portugal está cheio de grandes artistas e compositores. No entanto, afirma que “temos é as pessoas erradas a mandarem“, apontando o dedo às rádios nacionais, nomeadamente as mais ouvidas: “A partir do momento em que as rádios controlam os mercados, alguns projectos acabam por ficar pelo caminho, não passando na rádio simplesmente porque quem manda não gosta desses projectos. Isto faz com que a música portuguesa seja um pouco confusa para quem ouve essas rádios.”

O Festival da Canção, programa musical anual emblemático que consagra um vencedor para representar Portugal a nível europeu, também faz parte do passado do cantor. E do presente. Tudo começou em 2005, num convite para, juntamente com Luciana Abreu, ir representar Portugal no estrangeiro. Apesar de considerar uma “experiência fantástica”, o tema, que era metade cantado em português e outra em inglês, acabou por não ter sucesso. Este ano, decidiu tentar de novo a sorte, revelando que adorava a música, composta por Héber Marques (HMB). Em relação à participação, o artista confessa-se desiludido com o júri, embora o que mais lhe interessasse era o público, mas isso não bastou para se apurar para a final do certame televisivo, por um escasso ponto. Contudo, não desanimou e revelou que irá lançar o tema digitalmente, através de um videoclipe.

Não se destacou no concurso, mas houve quem se tivesse destacado. Nisto, era inevitável falar de Salvador Sobral, que conquistou o coração de toda a Europa, arrecadando pela primeira vez o prémio da Eurovisão para Portugal, e logo com o recorde de pontos. Sobre isto, Rui Drumond tem a certeza que foi completamente merecido: “Foi o arranjo vocal mais bem feito, a um nível superior das outras. Houve uma excelente interpretação, diferente… Claro que não se pode agradar a todos, é uma daquelas interpretações que ou odeias ou adoras. Não é para ir lá mascarado como os outros. Prefiro que seja diferente do habitual a nível musical, que foi o caso. O Salvador, para mim, é um cantor superior em termos de técnica vocal. A nível internacional, surpreendeu-me, pois pensei que as pessoas de fora não iam mudar de mentalidade. Mas mudaram e não olharam para um vencedor show-off, o que é uma grande mudança!”

O vencedor do The Voice também nos revelou como se procura inspirar para compor os seus temas, confessando que não costuma pensar muito nisso quando está em casa ou na Musicentro, escola de música para jovens talentos, onde é professor. “É mais quando vou tocar fora ou estou longe de casa, às vezes até na rua a passear, vêm-me palavras soltas e escrevo-as no telemóvel.” Em relação a preferências, Rui Drumond é explícito e afirma que lhe “agrada mais fazer a música do que a letra“, que é onde encontra mais dificuldades. Contudo, acaba por concluir que, devagarinho, acaba por chegar sempre àquilo que pretende.

Como já se percebeu, é um homem humilde e que não ambiciona ser um artista mainstream aquele com quem falamos, e isso fica bem patente na pergunta final que lhe lançámos. Quais são os teus planos para o futuro? Rui Drumond não hesita: “Conseguir engrenar com o meu estilo musical, ter mais seguidores da minha própria música, que me sigam como artista e que gostem do meu estilo musical. Não quero que gostem de mim por as minhas canções passarem na rádio ou terem imensas visualizações no YouTube. Quero que apreciem pelo estilo, pelo espectáculo, pela forma como é feita a interpretação. É por isso que estou a lutar agora!”

Conquistar o seu espaço no panorama musical português, passo a passo, de forma diferenciada e que sirva como exemplo para as futuras gerações. É esta a principal premissa de Rui Drumond para o que o futuro lhe poderá reservar. Ser um factor de mudança, ganhar o carinho do público não apenas por ser reconhecido através das rádios e do YouTube, mas sim pelos seus espectáculos ao vivo, que é a sua maior aposta. Após 14 anos neste meio, ainda há muito caminho a percorrer, mas sempre com orgulho naquilo que já fez e produziu.


Conteúdo produzido por: Beatriz Figueiredo, Diogo Pires, Francisco Rocha, Miguel Almeida e Rodrigo Matos, no âmbito da disciplina de Comunicação Digital da licenciatura em Comunicação Social e Cultural.