Viajar e Estudar – Uma experiência valorizada no mercado de trabalho

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Estudar no estrangeiro foi, segundo o Diário de Notícias, uma prática adotada por 5192 alunos portugueses em 2019. É inegável que a participação no programa de Erasmus potencia o enriquecimento do currículo académico dos alunos. Mas, afinal, numa sociedade cada vez mais globalizada qual é a real importância de estudar no estrangeiro?


Vantagens de fazer Erasmus

Dois alunos a estudar em conjunto na biblioteca numa mesa com livros, um estojo e duas calculadoras.
Alunos de Erasmus a estudar na biblioteca. O estudo em conjunto com colegas de outras nacionalidades pode ser muito enriquecedor.
“Modern Languages @ FLCC: France Study Abroad 2014” by LeafLanguages, Flickr, is marked with CC0 1.0

Em primeiro lugar, estudar fora é um grande desafio pessoal: o ganho de independência é fundamental para qualquer pessoa (seja qual for a sua área de trabalho), sendo que esta autonomia passa pela aprendizagem de um novo idioma.

Outro ponto importante é o ganho de tolerância, um estudante de Erasmus vai conseguir entender o que significa ser estrangeiro e isto subentende que, mais tarde, no regresso ao seu país de origem, o aluno consiga, mais facilmente, compreender aqueles que estão numa situação semelhante.

Além disso, fazer Erasmus constitui uma experiência diária de ultrapassagem de obstáculos, o que, futuramente, se refletirá no sentimento de que todas as tarefas são mais fáceis de executar. A realização de tarefas simples noutro país, como fazer compras, assistir a aulas ou pedir um café, fará com que, uma vez de volta ao seu país, o aluno se sinta mais capaz e confiante para fazer qualquer coisa.  

Finalmente, mas não menos importante, fazer Erasmus é sinónimo de fazer novas amizades, muitas delas com colegas de outras partes do mundo, o que será enriquecedor não só a nível pessoal, mas também cultural. Estas amizades permitirão ao estudante conhecer um vasto número de culturas e não apenas a cultura do país para onde foi estudar.

Como é a experiência de Erasmus entendida pelos estudantes?

Ainda para compreender a forma como a experiência de estudar no estrangeiro é entendida pelos estudantes, perguntámos a alguns alunos qual a palavra que, para eles, melhor descreve a experiência de Erasmus e estas foram as expressões mais mencionadas:

Palavras descritivas da experiência de Erasmus: emprego, autonomia, cultura, independência, ultrapassar obstáculos, enriquecimento pessoal, desenvencilhar, novos idiomas, soft skills, coragem, networking, amizades, trabalho, unicidade e desafiante.
Respostas obtidas à pergunta: “Como descreves numa palavra/expressão a experiência de Erasmus?” © Inês Tadeu

Estas são apenas algumas das vantagens de estudar no estrangeiro. Caso queiras aprofundar o teu conhecimento sobre a importância das experiências internacionais, ouve as razões apresentadas pelo vice-reitor da Universidade de Coimbra para fazer Erasmus.

Curiosidade sobre o mundo à luz de Martyna Mol

Para melhor compreender o impacto desta experiência na vida de um jovem estudante, falámos com Martyna Mol. A Martyna tem 25 anos, nasceu na Polónia, e é estudante de Erasmus – estuda em Portugal, na Universidade Católica Portuguesa. Terminou a sua licenciatura em Relações Económicas Internacionais e está, agora, matriculada no mestrado em Filologia Espanhola na Universidade de Varsóvia. A Martyna interessa-se pela cultura, línguas e história dos países ibéricos e latino-americanos, relações internacionais e diplomacia. Profissionalmente, a estudante dirige o seu próprio negócio no setor imobiliário. Acompanha, abaixo, a entrevista realizada à estudante.

DH: Quais as principais características que te definem?

MM: Considero-me uma pessoa ambiciosa, de mente aberta e empreendedora. Gosto de enfrentar novos desafios, de me envolver em novos projetos e de sair da minha zona de conforto. Sou espontânea, tomo decisões rapidamente, seguindo o que o meu coração e a minha intuição me dizem. 

DH: Que países já visitaste?

MM: Sempre quis explorar o mundo. Na América Latina estive no Brasil e em Cuba. Dos países europeus já fui a Espanha continental (onde estive alguns meses) e às suas ilhas, Alemanha, França, Suíça, Inglaterra, Países Baixos, Itália, Bulgária, Croácia e República Checa. Além disso, também já visitei o Egito, a Tunísia e a Turquia. Sendo que estou, agora, a viver em Portugal.

DH: O que te atraiu a Portugal?

MM: Antes de vir para Portugal como aluna de Erasmus, já tinha visitado Lisboa numa viagem de três dias. Nessa viagem senti que não tive tempo para ver tudo e para absorver inteiramente a beleza da cidade. Sentia-me insatisfeita e sabia que voltaria novamente a Lisboa, mas, naquela altura, não sabia que viria a estudar em Portugal. 

DH: Sei que tens uma página no Instagram onde publicas fotografias desta tua passagem por Portugal. Como surgiu essa ideia?

MM: Sim, é verdade. Um dia estive a ver as fotografias que tirei durante a minha estadia em Portugal. Queria criar algo pessoal, como um álbum de fotografias que, no futuro, será uma lembrança desta maravilhosa aventura. E foi assim que surgiu a ideia de abrir a conta @portugaldehoje

DH: O que te levou, inicialmente, a querer fazer parte do programa de Erasmus?

MM: Curiosidade sobre o mundo e paixão por explorar novos lugares. Além disso, já há alguns anos que quero aprender a falar português e penso que a melhor maneira de aprender uma nova língua é viver noutro país. 

DH: Hoje, a tua perspetiva sobre o programa de Erasmus é a mesma comparada com a que tinhas quando decidiste estudar no estrangeiro pela primeira vez? Se não, qual é a tua visão agora?

MM: Diz-se que o programa de Erasmus não tem tanto a ver com a aprendizagem acadêmica, mas sim com o conhecer pessoas e ir a festas intermináveis. Esse não foi o meu caso, até porque a pandemia pôs muitos limites à vida social de toda a gente. Apesar destas circunstâncias, estou muito contente porque esta situação permitiu-me concentrar nos meus estudos e desenvolver os meus interesses sobre os países ibéricos e latino-americanos, sobre os quais estou a escrever vários artigos e, também, a minha dissertação de mestrado.

É importante sermos capazes de nos adaptarmos às condições que temos e de aproveitarmos as coisas de uma ou outra forma. 

DH: Quais os principais desafios de estudar no estrageiro?

MM: No início, há sempre muitas formalidades e assuntos administrativos a tratar relacionados com a mobilidade. É preciso formalizar a viagem, ajustar o plano de estudos, obter um seguro de viagem, encontrar alojamento, etc. O segundo aspeto é a língua. Como já disse, desde o início que vim para Portugal com o objetivo de aprender a falar português, por isso, onde quer que tenha ido, tentei falá-lo. No início, foi um pouco difícil. Felizmente, conheci aqui muitas pessoas amáveis e gentis, que me fizeram sentir em casa. Outra questão, eu fiz Erasmus durante a pandemia, o que foi um stress adicional, até ao fim não sabia se seria possível. Hoje, o maior desafio que enfrento é decidir se vou voltar para a Polónia ou se vou ficar em Portugal! 

DH: Que vantagens achas que o programa de Erasmus te trouxe?

MM: Primeiro que tudo, a língua. Durante a minha estadia em Portugal aprendi a falar português e conheci a cultura deste país.

Julgo que fazer parte do programa Erasmus é uma grande ajuda para nos abrir a mente e, também, para alargar horizontes, experimentar outra maneira de viver e de ver as coisas.

Estudar no estrangeiro dá-nos, também, uma visão mais ampla de como funciona o ensino superior noutros países, e isto será, ainda, útil para desenvolver capacidades cognitivas.

DH: Achas que ter feito parte do programa Erasmus é valorizado pelas empresas? Se sim, em que sentido?

MM: Neste momento não me estou a candidatar a nenhuma posição, por isso é difícil dar uma resposta definitiva. No entanto, se no futuro eu quiser trabalhar com o mercado português, estou certa de que o facto de eu ter vivido neste país, aliado ao meu conhecimento da língua, cultura e costumes de Portugal, trará valor acrescentado, o que me vai, naturalmente, distinguir dos outros candidatos e estes são valores que nenhum curso me poderia ensinar.

DH: Em alguma ocasião da tua vida sentiste que a tua cultura de viajante te beneficiou em relação aos outros.

MM: Num contexto profissional, uma pessoa viajada ganha muitas competências de soft skills, torna-se mais flexível às mudanças e adapta-se mais rapidamente a novos ambientes. Penso que foram estas competências que me ajudaram a conseguir um estágio na Embaixada da República do Peru na Varsóvia, no ano passado. Além disso, a melhor coisa de viajar é que nunca sabemos o que vai acontecer. Há alguns anos estava numa viagem de comboio e comecei a falar com outros passageiros, foi assim que conheci alguns espanhóis e depois consegui um trabalho como intérprete deles, colaborámos durante dois anos num projeto que estavam a desenvolver na Polónia.  

Como é a experiência de Erasmus entendida pelos recrutadores?

Como vimos, o Erasmus é uma experiência que promove um grande impacto na vida de um estudante, mas é importante, também, pensar como é que esta experiência é encarada pelos recrutadores. Num mundo onde predomina a proliferação do conhecimento e da informação, o que distingue os estudantes será, mais do que os seus conhecimentos científicos, o seu conhecimento cultural. A cultura do mundo é, cada vez mais, valorizada nos processos de recrutamento. Mas porquê? Em que mais aspetos é o programa de Erasmus benéfico para os jovens estudantes?

Problem solving, umas das principais competências de um estudante de Erasmus segundo Jorge Oliveira

Jorge Oliveira, gestor de carreiras e Membro do Conselho da EucA (European University College Association), falou connosco sobre a importância da experiência de Erasmus.

DH: A seu ver, o que faz com que no contexto mundial atual seja tão importante viver experiências internacionais?

JO: A experiência internacional é algo extremamente enriquecedor em diversos aspetos, sobretudo no que diz respeito ao pessoal. Para além dos ganhos académicos, conhecer outro país, com uma outra cultura e com pessoas de diversos países faz com que o Erasmus seja uma experiência proveitosa.

Acaba-se por desenvolver inúmeras novas habilidades intra e interpessoais.

DH: Na sua opinião, de que modo é que a experiência de Erasmus pode ser uma mais-valia para os alunos nos processos de recrutamento?

JO: Existe uma forte pressão para as empresas trabalharem em diversos mercados. E uma pessoa com uma agilidade e experiência Erasmus pode responder melhor a este requisito.

DH: Consegue identificar uma relação positiva entre o ganho de currículo cultural dos alunos e a taxa de empregabilidade? De que forma e porquê?

JO: Não existe um método quantitativo para demonstrar o currículo cultural. Penso que é mesmo um grande desafio pessoal que nos capacita para comunicar melhor. Quando lemos e conhecemos outras pessoas e outras vidas, acabamos, de certa forma, por viver outras vidas, modelarmos o nosso carácter e sermos mais eficazes no trabalho em grupo e na transmissão de conhecimento.

DH: Depois de participar no programa de Erasmus, o aluno ganha competências que não teria ganho caso não tivesse estudado no estrangeiro. Que competências são estas? Quais destas competências são as mais valorizadas pelas empresas/recrutadores e porquê?

JO: Idiomas; Facilidade para viajar; Multiculturalidade; Flexibilidade para trabalhar em equipa com pessoas muito diferentes; Problem solving: a maneira de resolver um mesmo problema tem soluções para todos os gostos: germânicas, italianas ou portuguesas – todas chegam a soluções eficazes por caminhos diferentes.


Já vimos que fazer Erasmus é muito mais do que estudar no estrangeiro, é um ganho que competências e habilidades que não se ensinam na faculdade. Se este artigo te pôs a pensar sobre o assunto, não hesites e aposta numa experiência internacional. 😉


Informações foto de capa: “AGMwarsaw-selection-9857” by Erasmus Student Network International, Flickr, is marked with CC BY-NC 2.0

Conteúdo produzido por: Diogo Fernandes, Inês Tadeu, Joana Santos, Matilde Calhau e Matilde Nunes no âmbito da disciplina de Comunicação Digital da licenciatura em Comunicação Social e Cultural.