Sara Vital partilha o percurso do seu projeto de fitness no Instagram em contexto de pandemia. “Trazer movimento novamente à vida das pessoas” é o lema de Sara e a sua missão com esta iniciativa.
Sara Vital é uma jovem estudante e tem um projeto na sua página pessoal de Instagram – @saraimvital – dedicado ao fitness em casa. Atualmente, têm vindo a aparecer várias iniciativas, como projetos digitais e jovens empreendedores, tal como a Sara, que investem em ferramentas como redes sociais para a partilha e expansão dos seus projetos.
Uma das tendências que tem ganho mais popularidade é o fitness e o desporto, sendo essa a paixão de Sara Vital. Estudou no curso de Reabilitação Psicomotora da Faculdade de Motricidade Humana em Lisboa, durante o qual completou a sua formação com diversos workshops na Jazzy (como Broadway, High Heels, Dancehall). No fim da sua licenciatura, estagiou no Colégio Pedro Arrupe onde teve oportunidade de observar aulas de educação física e fez, ainda, uma formação desportiva na Alemanha. Foi assim que Sara percebeu que uma licenciatura não era suficiente, tendo decidido ingressar no curso de Ciências do Desporto.
Em contexto de pandemia, para muitos o desporto passou a ser praticado dentro de casa, sem PT’s (personal trainers) ou ginásios equipados disponíveis. É por isso que na base do seu projeto está o foco nos outros. Sara promove o fitness que é acessível a todos e que é transferido facilmente para as casas dos visualizadores. Tenta não usar material de ginásio e trabalha apenas com o que todos têm, o seu corpo.
Tudo o que fiz foi agarrar no que todos temos em casa e trabalhar com isso. Temos um corpo, temos motivação, um telemóvel para me verem aos saltinhos e a dançar e “Bum”, a magia acontece.
Sara Vital
O que levou ao projeto de Sara
DH: Falando um pouco de ti, como surgiu esta iniciativa de criares vídeos de fitness no teu Instagram?
SV: Acho que a característica que melhor me define é mesmo ter bichos carpinteiros (risos), mas é verdade. Não sou pessoa de estar quieta. Se não tenho nada para fazer, arranjo sempre qualquer coisa.
Sempre fui muito ligada ao movimento. Desde criança que estou ligada à dança e desde que vim para Lisboa tirar o curso de Reabilitação Psicomotora, fiquei ainda mais interessada pela mesma. (…)
No meio de tudo isto, apareceu a pandemia. Mesmo em cheio no 2º semestre do 1º ano. Escusado será dizer que 2020 foi horrível. Foi para a maior parte das pessoas, mas no meu caso foi especialmente mau porque parti o pulso. Com a agravante de termos uma carga horária online superpesada, acabei por entrar em défice calórico e fui parar aos 48Kg. Para a minha altura e idade é abaixo do peso. Dois azares que acabaram por me impedir de treinar e de ser saudável. Imaginem a minha dor. Uma pessoa superativa que, de repente, se vê agarrada a um computador e ainda é maneta.
Superei, mas passado 1 ano cá estamos outra vez. Tal como é sabido, devemos aprender com os erros e eu aprendi com o meu. Não irei repetir o acontecido do ano passado. Foi assim que, este ano, para além de ter procurado trabalho na minha primeira área de formação, ainda comecei com este projeto no Instagram. Simplesmente juntei as coisas que mais amo fazer: exercício físico, dança, diversão. E “Bum”, saiu o que vocês veem. São vídeos muito curtos para serem considerados treino, mas aí é que está o segredo. Por não ser treino, as pessoas fazem, e assim, inevitavelmente, saem do sofá e quebram o sedentarismo característico da pandemia. Não sei dizer se os vídeos me ajudam mais a mim ou às pessoas que me seguem, mas eu baseio-me na “Estratégia Ganha-Ganha” e acho que todos ganhamos.
DH: Qual o teu objetivo com a página e o que significa para ti, profissionalmente e também pessoalmente?
SV: Quanto mais estudo, mais entendo a necessidade de quebrar o sedentarismo. Quando olho para o mundo, para a nossa sociedade, mais entendo a falta que o exercício físico faz. Uma sociedade que já é tecnológica. Nem vale a pena ter aquele discurso de que o futuro são as novas tecnologias. Esse já está a ser o nosso presente. Sendo assim, apenas juntei o útil ao agradável. Apanhei a onda e aproveitei-a para motivar a um estilo de vida saudável.
Movimento é vida! Seja plantar batatas, dança, seja atividade física ou exercício físico, seja alto rendimento, estamos a falar de movimento. É esta a minha motivação. Trazer movimento novamente à vida das pessoas. O movimento traz-nos alegria, diversão, paz…tudo o que nos promove bem-estar.
Pessoalmente é uma realização poder ler mensagens privadas de alguns seguidores a dizerem-me que os motivo, que só se levantam da cama porque lhes passo a minha energia. Não tenho muitos seguidores, ou views, ou comentários, mas não são esses que contam. Contam muito mais as mensagens privadas. Se sei que vou ajudar apenas uma pessoa, o vídeo ou publicação já vale a pena.
Profissionalmente, quem sabe se um dia poderei tirar algum proveito do que estou a fazer. Na verdade, já tive alguns frutos como fazer o “Dia do Exercício” da semana da saúde da AEIST. Nunca sabemos o que o futuro nos reserva, mas se trabalhar com disciplina e compromisso, sei que vai dar frutos. Por outro lado, acabo por “treinar” para a minha futura profissão. Amo fitness e nesta plataforma vou ter os comentários mais honestos. Chego a um público maior, o que acaba por me melhorar a cada dia, já que tenho comentários tanto de colegas da área como praticantes que amam igualmente o fitness.
Estratégia de Sara
DH: Agora com a pandemia o fitness, a partir de casa, tende a ter cada vez mais adeptos. Sentiste a procura das pessoas e a necessidade de modelos que os ajudassem a adaptar a sua rotina de ginásio à sua casa?
SV: O fitness em casa sempre esteve muito presente na vida de três tipos de pessoas: pessoas sem dinheiro para pagar a um ginásio ou PT; pessoas que têm vergonha de fazer exercício em frente a muita gente; pessoas que não têm ginásio ou outras oportunidades na sua terra. Eu sempre pertenci ao primeiro caso (risos) por isso desde sempre que pesquisei por influencers credíveis que de alguma forma me orientassem. Encontrei a minha preferida e que ainda hoje sigo os planos dela. Devem-se estar a perguntar como é que uma pessoa que se está a formar para ser PT apoia este mercado (risos) mas apoio mesmo, exatamente porque já fui uma das pessoas que não tinha dinheiro para um ginásio. Eu quero ser a PT que pode ajudar qualquer pessoa a fazer exercício em casa. Todos temos o direito de fazer exercício. Todos devíamos ter essa oportunidade. Estamos a falar de saúde. Eu quero ser a profissional que dá oportunidade aos “pequenos”, à minoria que por algum motivo não pode ou não consegue fazer exercício.
Esta pandemia só trouxe para casa as pessoas que iam ao ginásio. Essas pessoas agora ficaram meio perdidas: “como é que treino sem pesos?”, “como é que treino sem companhia?”, “como é que treino sem a motivação do meu PT?”… enfim, inúmeras questões que agora se viram obrigados a responder. Esses mesmos vêm-se obrigados a escolher 1 de 2 caminhos. Ou transitam para um estado de sedentarismo ou procuram os profissionais que sempre estiveram online.
De repente tive pessoas a pedirem-me para partilhar os meus treinos e eu respondi com pequenos vídeos motivacionais (que nem posso chamar de treino por serem tão curtos). Para já não tenho tempo para tal e também ainda não acabei a minha formação, mas senti-me lisonjeada pela confiança depositada em mim e porque se sentiram livres para falar abertamente comigo sobre as suas necessidades. Tudo o que fiz foi agarrar no que todos temos em casa e trabalhar com isso. Temos um corpo, temos motivação, um telemóvel para me verem aos saltinhos e a dançar e “Bum”, a magia acontece.
Acho que neste momento o meu maior desafio é diferenciar-me. Hoje em dia está toda a gente na internet com canais de Youtube, páginas nas redes sociais, parece que todos são experts!
Sara Vital
O que o futuro aguarda
DH: O que esperas para o futuro deste projeto?
SV: Espero que cresça. Apesar de não saber onde me vai levar, espero simplesmente que cresça. Não de forma forçada, mas de forma genuína. Quero focar-me na aeróbica, porventura no step, talvez HIIT´s, muita dança, como é óbvio e principalmente espero que me abra portas, que surjam oportunidades.
Eu nunca olhei este projeto de uma forma empreendedora porque foi uma coisa que foi surgindo sem esforço. Mas agora que já tenho um projeto mais formado, se olhar de uma forma mais empreendedora, é obvio que vejo potencial naquilo que estou a fazer. Se estamos a ficar com uma sociedade voltada para as tecnologias vou querer usar isso a meu favor e desenvolver-me nessa área.
Hoje em dia qualquer um é influencer a partir de patrocínios e publicidade de marcas. Mas esse não é de todo o meu objetivo, por isso se tentar desenvolver mais este projeto no futuro será para partilhar conteúdo exclusivo de exercício físico, que é o meu nicho, com vídeos simples que neste momento nem posso chamar de treino porque têm apenas 3 minutos e nesse tempo apenas dá para aquecermos (risos).
Mas posso vir a criar um website, uma plataforma que servisse como uma base para as pessoas, teria já links para os vídeos no Youtube, e no fim o Instagram seria apenas para me patrocinar, quase um auto-marketing. Nunca teria o conteúdo todo no Instagram.
Esta é uma alternativa que posso vir a aproveitar, mas para desenvolver ao máximo o projeto nesta escala, quase que teria de o transformar no meu trabalho a tempo inteiro, porque exigiria muito tempo e foco. Mas por agora o meu foco é talvez ser PT ou trabalhar num ginásio, algo que não estou disposta a deixar. Se fosse realmente investir numa plataforma digital minha de fitness teria de deixar o meu trabalho, porque desenvolver planos de fitness para outros implica um grande período de tempo de experiência com o nosso corpo, ver os resultados obtidos e só depois porventura dá-lo ao público ou não.
Desafios do projeto
DH: Quais os desafios que mais sentes afetar o teu projeto?
SV: É um desafio não ter uma câmara decente, não ter um tripé, não ter um cenário, não ter um editor, não ter mais roupa, escolher a música (risos), não ter necessariamente mais tempo para fazer mais vídeos, desafios que se vão superando com o crescimento do próprio projeto e com o feedback das pessoas.
Mas acho que neste momento o meu maior desafio é diferenciar-me. Hoje em dia está toda a gente na internet com canais de Youtube, páginas nas redes sociais, parece que todos são experts! E aí entra e interessa muito a nossa credibilidade e formação, eu acho que vamos ser a geração das duas licenciaturas e dois mestrados com mil formações tudo na tentativa de sobressair no meio dos outros. Um farmacêutico é capaz de dar aulas de PT… mentira, não dá. Ele vai ao seu PT, aprende os exercícios que lhe são dados, mas não é por isso que fica PT, não é? A área do exercício depois também leva a todos acharem que o nosso trabalho é facilmente substituível.
Tentar aproximar-me da realidade de quem me segue. Passar do ginásio para casa muda muito porque de repente não temos os pesos e as máquinas que usávamos. É preciso adaptar o treino para a realidade de casa e isso é muito difícil. Arranjar exercícios que se adaptem a todos com o que temos em casa e que ao mesmo tempo deem resultado.
Para que se possam inspirar e juntar-se ao fitness em casa, estas são algumas sugestões de perfis de Instagram de fitness que a Sara vos deixa:
Fotografia de capa: “Crop woman with laptop and dumbbell on sports mat” by Karoline Grabowska, Pexels is licensed under Pexels License
Conteúdo produzido por: Diogo Fernandes, Inês Tadeu, Joana Santos, Matilde Calhau e Matilde Nunes no âmbito da disciplina de Comunicação Digital da licenciatura em Comunicação Social e Cultural.